Informática Prática

 

Revistas Médicas na Rede:
A nova forma de se atualizar

Renato M.E. Sabbatini


Revista Reporter Médico 4 Maio 1999)
Veja também: Índice de Artigos de Informática Médica de Renato M.E. Sabbatini



Como todo mundo sabe, o progresso da ciência depende diretamente da divulgação do conhecimento através das revistas científicas impressas. Mas. à medida que a humanidade evolui, tornam-se cada vez mais sérios os problemas gerados por essa tecnologia obsoleta. Apenas na área médica são adicionados ao conhecimento mundial cerca de um milhão de palavras por hora, publicadas em mais de 6.000 livros novos por mês, e mais de 25.000 revistas e outros tipos de periódicos. A maior biblioteca médica do mundo (a famosa US National Library of Medicine) tem em seu acervo mais de 700.000 livros médicos, e cerca de 20 milhões de artigos impressos. Na sua base de dados bibliográficos MEDLINE existem 10 milhões de artigos, publicados desde 1962, e esse número é aumentado de meio milhão por ano. E o pior é que, segundo o que a própria NLM admite, ela não chega a cobrir 50% de tudo que é publicado em Medicina, mundialmente!

Veja o box para os endereços citados na Internet
 

Problemas

O crescimento explosivo do conhecimento impresso gerou muitos problemas, mas o principal deles é que, se este ritmo continuar, acabaremos todos ignorantes... por excesso de saber. Para o médico, torna-se cada vez mais difícil localizar o conhecimento desejado e manter-se em dia com a evolução do conhecimento, mesmo em áreas extremamente especializadas. E o conhecimento que já possuimos fica obsoleto com uma velocidade espantosa.

Outro problema é o caríssimo custo de impressão e distribuição das revistas e livros. O custo de uma assinatura já está se tornando proibitivo para todos, leitores e bibliotecas, principalmente. Como elas não conseguem mais arcar com os custos, estão ficando cada vez mais incompletas, dificultando enormemente a localização de um artigo que se quer ler. Através do computador (MEDLINE) podemos localizar rapidamente uma série de artigos interessantes, e até ler os seus resumos, mas isso se transforma em amarga frustração, quando queremos ler o artigo completo.
 
 

A salvação é eletrônica

Entra em cena a Internet e a WWW. Subitamente, v&aacut velocidade espantosa. Atualmente, existem mais de 6.000 revistas científicas eletrônicas na rede, e dezenas mais são acrescentadas, todo mês.
 
 
Como Funciona uma Revista Eletrônica 

O índice geral (home page, ou capa), dá acesso aos números mensais da revista. 

Neste exemplo, mostramos a Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, que também existe em versão impressa.  

Clique nas imagens à esquerda para ver uma ampliação. 

www.socesp.org.br

Um artigo da revista, acessado a partir do sumário de um número da revista, dá acesso ao texto completo, que é idêntico ao encontrado na versão em papel, e pode ser impresso ou gravado em disco.
O texto do artigo também pode conter imagens de qualquer tipo, e apontadores ativos (links) para outros artigos, referências bibliográficas, etc.
 

Felizmente, com a maior disponibilidade de textos eletrônicos na Internet, a tendência é o médico precisar ir cada vez menos na biblioteca para se manter atualizado. Atualmente, a maior parte das revistas importantes na área médica já está disponível (veja o box com os principais endereços), antes mesmo de sairem impressas. Muitas editoras médicas estão estabelecendo divisões de revistas eletrônicas, mas que, em geral, se limitam a editar na Internet o que já existe em papel (são raras, ainda, as editoras que têm revistas exclusivamente em forma eletrônica). Mas a tendência é irreversível: possivelmente dentro de dois ou três anos, teremos praticamente todas as revistas científicas e tecnológicas disponíveis na WWW. A maioria ainda está começando de forma tímida, colocando apenas o índice dos artigos e os resumos dos mesmos, na Internet, gratuitamente. Se o leitor quiser acessar o artigo completo, com textos e imagens, terá que pagar uma assinatura, que pode ser para a revista toda, ou artigo por artigo.

Como saber quais revistas médicas já estão na Internet? Existem alguns catálogos ("estantes eletrônicas"), na própria rede. Um dos mais completos é o MedWeb Plus, que recomendo. A NLM também tem um catálogo, menos completo e mais seletivo, em seu site, assim como a WWW Virtual Library of Medicine.
 
 
Como Funciona um Serviço Noticioso 

Após assinar o serviço na Int www.intelihealth.com

O site da InteliHealth News na Internet armazena todos os artigos referidos pelo email, e pode ser acessado diretamente através do link refereido acima. 

Muitos outros recursos de informação para leigos e profissionais são disponibilizados nessa página, facilitando a navegação.

 

Saber o que saiu de novo também está ficando cada vez mais fácil, graças às tecnologias da Internet. Diversos serviços de notícias médicas funcionam através do correio eletrônico (email) ou listas de discussão, alertando automaticamente em sua caixa postal eletrônica as novidades do dia ou da semana, inclusive dividindo por especialidade. Alguns exemplos interessantes são o InteliHealth, elaborado pela Johns Hopkins Medical School, e o MedReporter, feito aqui no Brasil mesmo. Os "journal clubs" (discussão semanal de novos artigos), que é uma tradição na atualização médica nos EUA e outros países, também já é uma realidade na Internet. A Sociedade Médica de Boston tem um excelente site, assim como o MedWebLit, outro recurso interessante.
 
 
Home page do serviço noticioso semanal MedReporter
 

As novas bibliotecas

As novas tecnologias de publicação possibilitam recursos fascinantes. Um artigo em revista médica eletrônica pode ter nas referências bibliográficas ao final os links para os resumos constantes da MEDLINE. Esta base, por sua vez, permite que o leitor exploda a sua busca por artigos relevantes, a partir da referência bibliográfica que encontrou na revista, dando o acesso a outras referências sobre o mesmo assunto.  A National Library of Medicine, por sua vez, está começando a fazer os linksopostos, ou seja, dar ao leitor a possibilidade de ler o artigo completo on-line, a partir das referências bibliográficas resumidas contidas na base MEDLINE. Isso é só o começo de uma imensa teia de interligações, que se estabelecerá daqui a alguns anos como uma ferramenta incrivelmente poderosa à disposição dos estudantes, professores e pesquisadores, através da Internet. Sua própria existência acelerará a morte das publicações convencionais em papel, uma vez que, para as revistas que não entrarem na Internet, será muito difícil sobreviver sem esses links (elas serão lidas por um número cada vez mais minguado de leitores !).

A novidade final será quando se tornarem realidade as publicações exclusivamente eletrônicas. Elas serão enormemente diversificadas, e incorporarão tecnologias novas, que o papel impresso não permite, tais como "papers" em multimídia, ou seja, acompanhado com sons e vídeos, interatividade com os autores, etc. No Brasil existem três grandes projetos que estão explorando essa possibilidade: o grupo e*pub, de publicações eletrônicas em medicina e saúde, do Núcleo de Informática Biomédica da Unicamp, o grupo bioline, da Fundação André Tosello, de publicaç&o (UNICAMP)

O fato é que estamos assistindo a uma revolução tão radical quanto a própria invenção da escrita, 4 mil anos atrás, e a invenção da imprensa, 500 anos atrás. O ritmo se acelera implacavelmente, e idéias diferentes e criativas estão vindo por aí. Quem não se adaptar, terá dificuldades, daí a necessidade de todos  os médicos descobrirem a Internet e a utilizarem eficientemente.
 

Para Saber Mais

Sabbatini, R.M.E.: Pesquisa Bibliográfica na Internet. Revista Intermedic 1(2), 1997.
Sabbatini, M. e Sabbatini, R.M.E.: Publicações Médicas na Internet. Revista Informática Médica 1(3), 1998.
Sabbatini, R.M.E.: Educação Médica Continuada pela Internet. Revista Reporter Médico, 1(2), dezembro de 1998.
 

 

Endereços na Internet


Renato M.E. Sabbatini é doutor em ciências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, e diretor do Núcleo de Informática Biomédica da UNICAMP, em Campinas, SP. É também diretor de informática médica da AMB, e editor científico das revistas