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Recordes de audiência

 

Renato Sabbatini

No dia 10 de novembro passado o número de usuários adultos da Internet nos EUA ultrapassou a barreira mágica dos 100 milhões. Isso representa um crescimento espantoso: 45 milhões de novos usuários em apenas um ano! Em outras palavras: foram mais de 123 mil pessoas acessando a Internet pela primeira vez em suas vidas, por dia. Ainda segundo a empresa que fez o levantamento (Strategis Group, dos EUA, www.strategis.com), isso significa também que cerca de 50% dos americanos adultos utilizam a Internet. Cerca de 60% dos usuários domésticos utilizam diariamente a Internet, e 69% dos usuários no trabalho. E eles estão ficando cada vez mais sofisticados, é o que se deduz a partir do dado que 77% deles enviaram arquivos por e-mail (via "attachment", ou anexo), e que 22% criaram ou atualizaram uma página na Web nos últimos três meses.

Os analistas da demografia da Internet estão prevendo que serão 110 milhões de usuários nos EUA até o final do ano, e 165 milhões até 2002. No entanto, como o Caderno Cosmo mostrou na última edição, estas predições podem estar totalmente erradas, segundo o guru da Internet, o Professor Nicholas Negroponte, diretor do MIT Media Lab (www.medialab.mit.edu) . Em primeiro lugar, inclui apenas os usuários que estão registrados em algum provedor (como qualquer um sabe, hoje em dia existem milhões de terminais públicos, principalmente em escolas, onde não é necessário registrar-se para navegar na Internet). Em segundo, a estatística inclui apenas os usuários acima dos 18 anos de idade, o que provavelmente está deixando de fora mais uns 20 a 30 milhões de crianças e adolescentes, que estão usando em números cada vez maiores.

A taxa de crescimento, que não deixa de ser espantosa, também pode mudar muito nos próximos meses. O Prof. Negroponte chamou a atenção para o fato de que a proliferação dos "pagers", agendas eletrônicas e telefones celulares com acesso à Internet (sem falar de novas mídias, como WebTV, aparelhos de vídeogame, eletrodomésticos e brinquedos eletrônicos) empurrarão o número de usuários em todo o mundo para a marca dos 1 bilhão, rapidamente (em questão de um ou dois anos). É difícil imaginar um crescimento tão grande assim, e os impactos que isso terá sobre a velocidade de tráfego na Internet, mas acho que o Negroponte tem razão.

Outro dado que tem sido um pouco ignorado pela mídia americana é o crescimento fora dos EUA, que, em muitos países, está alcançando taxas de crescimento até 10 vezes maior do que nos EUA. Essa postura decorre, é certo, da posição dominante do mercado americano (cerca de 60% de todas as conexões à Internet). Mas não se pode ignorar que existem outros países que têm números significativos: até o fim do ano, por exemplo, o Japão terá 18 milhões, o Reino Unido 14 milhões, o Canadá 13 milhões, a Alemanha e a França 12 milhões cada, e a Espanha e o Brasil, 8 milhões cada; ou seja, quase 90 milhões. No total, serão cerca de 490 a 500 milhões de usuários em todo o mundo em 2002, sendo que o mercado que mais crescerá será o asiático (422% nos próximos 6 anos), em virtude das populações enormes e dos investimentos que estão sendo feitos aceleradamente em infra-estrutura.. Espera-se, por exemplo, que o número absoluto de usuários na China será o primeiro a ultrapassar o dos EUA, em 2010. Atualmente são 44 milhões de usuários na Ásia. Em 2005 prevê-se que serão 85 milhões de usuários só na China, e possivelmente outros tantos na Índia, o segundo país mais populoso do mundo. É um mercado para ninguém botar defeito, e as empresas baseadas na Internet, evidentemente, estão extremamente interessadas nessas estatísticas. Quem entrar cedo nos mercados em expansão, como a Ásia e América Latina, terão enorme vantagem e testemunharão enormes valorizações de suas empresas.

Um outro fator resultante da expansão da Internet fora dos EUA tem sido pouco notado e discutido, pelo mesmo motivo: falta de visão e compreensão da cultura de outros povos. Trata-se do problema do idioma utilizado nos sites. Atualmente, o inglês é ainda dominante, mas cada vez mais os usuários, principalmente aqueles com pouca sofisticação ou nível educacional mais baixo, estão interessados em acessar coisas em seus próprios idiomas. Assim, podemos esperar que o chinês, o espanhol, o português, o japonês, o coreano, o alemão e o francês serão idiomas dominantes na Internet em pouco tempo. Isso explica, por exemplo, a enorme valorização de portais como a StarMedia (www.starmedia.com), voltadas para o mercado ibero-americano, inclusive a comunidade de fala hispânica dos EUA, que é atualmente de 32 milhões de pessoas, sendo que cerca de 12 milhões são usuários da Internet.

A Internet caminha em passos rápidos para ser o principal meio de acesso à informação em nível internacional, principalmente nos países emergentes, onde os meios tradicionais, como as bibliotecas, jornais, revistas, etc., são cada vez mais insuficientes (e caros).
 

Para Saber Mais

 



Renato M.E. Sabbatini é professor e diretor do Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas, colunista de ciência do Correio Popular, e colunista de informática do Caderno Cosmo. Email: sabbatin@nib.unicamp.br

Veja também: Índice de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no Correio Popular.



Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 17/11/99.
Jornal: Email: cpopular@cpopular.com.br
WWW: http://www.cosmo.com.br


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