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Personalização: a nova tendência

 

Renato Sabbatini

Esta semana os usuários do excelente produto RealJukeBox (que permite ouvir áudio MP3 e RA através da Internet) ficaram chocados com a revelação que a empresa RealNetworks estava coletando informações sobre que tipos de músicas os seus usuários estavam ouvindo. Um dispositivo especial no software envia a identidade do usuário e os hábitos musicais pela Internet, automaticamente.

Infelizmente esta é uma invasão da privacidade dos usuários da Internet que está ficando cada vez mais freqüente, com várias desculpas dadas pelos infratores. A RealNetworks (www.real.com), por exemplo, declarou que a intenção era boa: personalizar o site com base nas preferências do ouvinte, de tal forma que ele possa cada vez mais ver ou ouvir apenas o que é do seu interesse principal. Mas a gritaria do pessoal militante de direitos à privacidade (como a Electronic Frontier Foundation, www.eff.org) foi tão grande que a RealNetworks teve que recuar, assim como a poderosa Microsoft, que tinha feito a mesma coisa na última versão comercializada do Windows, e a Intel, que tinha planejado inserir um código digital único de identificação em cada chip Pentium III vendido. Isso iria escancarar as portas do mundo digital para abusos de toda espécie, assim como para a ação de turma da lei e da ordem (processo por detecção de software pirata, por exemplo, ou localização de computadores roubados.

Milhares de sites estão partindo para a personalização, que será uma das tendências mais fortes da Web nos próximos anos. Um exemplo de personalização na área médica seria o seguinte: o usuário registra em um formulário on-line seus diversos problemas de saúde e necessidades de atenção médica preventiva e curativa (diabetes, hipertensão, hábitos, antecedentes familiares, etc.). Esses dados são armazenados em um servidor central e podem ser acessados por softwares que enviam automaticamente para o usuário apenas as informações, notícias, testes médicos, etc. que o interessam. Toda vez que o usuário entra no portal de saúde, o sistema pede uma senha e mostra uma espécie de "página pessoal", que contém todas essas informações, lembretes para exames de rotina, email dos médicos que o atendem, anúncios de medicamentos para as doenças que ele tem, e assim por diante. Um exemplo de empresa que faz esse tipo de serviço nos EUA é a MyHealthNotes (www.myhealthnotes.com). Outro que está caminhando nessa direção, ainda na área médica, é o DrKoop (www.drkoop.com), um dos maiores portais de saúde para leigos do mundo.

Na área de esportes, o site da ESPN fez grande sucesso na última Olimpíada, ao permitir essa personalização em termos dos esportes de interesse dos visitantes. O site se "lembrava" dos últimos acessos e quais as páginas tinham sido visitadas, oferecendo-as na forma de um menu especial.

A personalização, no entanto, é uma faca de dois gumes. Bem feita e seguindo princípios éticos pode se transformar em um poderoso recurso para facilitar a navegação, ter acesso às informações mais relevantes para o usuário (e não todas) e capacitar uma série de serviços novos que serão muito úteis para todos. Por outro lado, ela pode potencialmente representar uma séria ameaça para a confidencialidade das pessoas, pois existem empresas que estão captando dados pessoais sobre os internautas, hábitos de consumo, etc. e vendendo-as para empresas de marketing direto que enche nossos emails de mensagens indesejadas de propaganda. Atualmente a maior parte das estratégias de personalização estão focalizadas no comércio eletrônico, como livrarias (a www.amazon.com é uma das pioneiras, ao recomendar livros que foram comprados por pessoas com interesses semelhantes aos seus), e isso dá um resultado garantido e de grande impacto sobre o faturamento da empresa on-line. No entanto a tendência é que a personalização também se estenda ao conteúdo dos sites, como artigos, ítens de bases de dados, etc.

Éticamente, seria ideal que um site avise o usuário de que suas preferências e navegação serão registradas, e desse a opção para que ele autorizasse tal fato.Nem todos os sites fazem isso, infelizmente. Existe uma tecnologia chamada "cookie", através da qual um programa do lado do servidor um applet em Java ou JavaScript grava no disco do usuário um arquivo de texto contendo informações sobre o usuário, que pode ser recuperado depois quando ele visita novamente o site. Muita gente tem medo do "cookie", por achar que ele pode conter um vírus, apagar arquivos do disco, etc. Na realidade não é nada disso, os "cookies" são bastante inofensivos e não podem ser recuperados a não ser por quem os gravou a primeira vez. Os "cookies" podem ter um período de validade e também ser criptografados para evitar quebra de confidencialidade. Caso o usuário não queira que nenhum "cookie" seja gravado, ele pode desabilitar essa opção no "browser" que usa comumente.

O grande problema, no entanto, é que a imensa maioria dos usuários não sabe o que é um "cookie", o que ele faz, como apagá-los do disco, como desabilitar o "browser", etc. Assim, toda essa polêmica acaba confluindo para uma desconfiança e uma rejeição do usuário toda vez que algum site solicita informações individuais.

Para Saber Mais
 



Renato M.E. Sabbatini é professor e diretor do Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas, colunista de ciência do Correio Popular, e colunista de informática do Caderno Cosmo. Email: sabbatin@nib.unicamp.br

Veja também: Índice de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no Correio Popular.



Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas,  05/11/99.
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