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Mensagens Instantâneas: A Guerra

 

Renato Sabbatini

A nova e sangrenta guerra comercial na Internet chama-se "mensagens instantâneas". Quem já usou o ICQ (www.icq.com) sabe do que eu estou falando. Este software/serviço foi o primeiro a desenvolver um recurso que se tornou a moda mais "quente" da Internet nos últimos meses. Com ele você pode participar de uma comunidade virtual, formada de milhões de pessoas que usam o mesmo software e que podem trocar mensagens instantâneas entre si (sem ter que esperar o retardo do e-mail normal), ou entrar em "chats" com dois ou mais usuários.

Com 30 milhões de usuários registrados, atualmente o ICQ (pronuncia-se "I seek", ou "eu procuro", em inglês) é o maior melhor sistema do mercado, tendo sido realmente o que inventou o conceito e que iniciou a moda, que está tendo muitos seguidores, entre os quais grandes nomes, como a America On-Line (maior provedor de Internet do mundo, com 40 milhões de usuários), com seu AOL Instant Messenger (AIM), a Netscape (com o Netscape Message Center), a Yahoo! (com o Yahoo Messenger) e a Lotus (com o Sametime). Com a aquisição da Netscape pela AOL, a nova versão do browser da empresa agora oferece o AIM integrado e compatível, o que acirrou a guerra (o Netscape Center é o site com maior número de acessos por dia de toda a Internet, ao usar o simples expediente de distribuir o software com o Center como home-page automática. As estatísticas mostram que quase 50% dos usuários nem se preocupa, ou não sabe como, mudar essa configuração!).

Nesta semana a poderosa Microsoft entrou na briga contra a arqui-rival AOL/Netscape, anunciando que também está oferecendo um software de mensagens instantâneas para funcionar com os seus serviços MSN (Microsoft Network, com 8 milhões de usuários) e HotMail (serviço gratuito de e-mail pela WWW, com 28 milhões de usuários). Será também um produto integrado na nova versão do Explorer 5.0 e do Outlook Express 5.0, programas gratuitos de acesso à Internet a ao e-mail que são hoje os líderes de mercado (o que garante seu sucesso). Em um espantoso golpe de marketing, a Microsoft anunciou que seu software é compatível com o AIM, ou seja, usuários da AOL e da MSN/HotMail vão poder trocar mensagens sem necessidade de mudar de software. O objetivo confesso da Microsoft é atrair mais usuários para seus sites. Ofendidíssima com a invasão territorial, a AOL bloqueou neste final de semana o acesso do serviço da Microsoft aos seus servidores, denunciando-o como uma invasão de privacidade e "algo muito próximo de um ato de "hackers". A coisa está feia…

Aliás, a briga mostra um aspecto bastante infeliz e desvantajoso dos sistemas de mensagens instantâneas: eles são amplamente incompatíveis entre si, indo contra uma tendência histórica da Internet, que apenas se desenvolveu no que é, graças à adoção de protocolos padronizados e "falados" por todo mundo, como o TCP/IP (Transmission Control Protocol/Internet Protocol), HTTP (HyperText Transfer Protocol), FTP (File Transfer Protocol), SMTP (Simple Mail Transfer Protocol), IRC (Internet Relay Chat), etc. Vai acontecer a mesma coisa que com a tecnologia "push", que morreu e se fragmentou em centenas de tecnologias incompatíveis entre si, por ganância das companhias que queriam ficar sozinhas no promissor mercado. Para dar uma idéia, atualmente quando ligo meu computador, três sistemas de mensagens instantâneas são ativados: ICQ, Yahoo Messenger e Netscape Center. E existem muitos outros, menos votados, como PowWow, WinPop, Ding, PeopleLink, etc., que não uso.

É coisa demais: gasta muito disco e muita memória, provoca confusão e perda de tempo (ás vezes recebo mensagens de dois sistemas ao mesmo tempo) e torna extremamente difícil intercomunicar os sistemas entre si. O ideal seria ter um sistema único, que pudesse acessar os serviços que eu quisesse. Mas este padrão de interoperacionalidade ainda não existe. Por causa disso, muita gente desliga o ICQ alguns dias depois de ter instalado. A coisa tende a piorar com a competição direta entre os sistemas de mensagem instantânea com os de teleconferência, como CUSeeMe e NetMeeting, ao colocar também capacidade de conversa por voz (o Yahoo Messenger é ótimo nesse sentido, pois permite conversas simultâneas entre vários usuários) e vídeo.

A briga entre os gigantes da Internet se justifica: embora todos os softwares e serviços sejam oferecidos gratuitamente para "download" e instalação, o que as empresas realmente querem é dominar os números espantosos de usuários e de acessos diários, atraindo-os para seus serviços pagos ou mantidos por publicidade. Além de oferecer mensagens instantâneas, a maioria do sistemas também distribui notícias e cotações da Bolsa pela tecnologia "push", pequenos anúncios, etc. Ganham também uma lista de usuários para ações de marketing eletrônico e venda de serviços que é mais bem tolerada pelos usuários do que os famigerados "spammers" (envio de e-mails de propaganda não solicitada). Por exemplo, o Yahoo Messenger (que se chamava Pager e teve que mudar de nome) tem uma interface muito funcional e pouco invasiva. Você pode personalizar os seus canais de notícias, escolhendo assuntos e provedores., e elas são descarregadas diariamente quando você acessa o Messenger. Um simples botão permite ocultar da sua vista essa listagem, se não estiver interessado, mas eu, que sou viciado em notícias, me vi usando essa característica várias vezes por dia, com excelentes resultados. O ICQ não tem isso (pelo menos por enquanto).

Aliás, o ICQ é considerado o melhor porque oferece um riquíssimo leque de opções e funcionalidades, que é quase uma Internet dentro da Internet: "chat" multiusuário, e-mail, notificação automática de entrada de seus amigos na rede, transferência de arquivos, pesquisa de usuários por nome, cidade e outros parâmetros, etc. A mensagem instantânea é fascinante, pois cria uma nova opção na gama de serviços de comunicação pessoal: o e-mail comum tem a filosofia de não exigir a resposta imediata, e se parece mais com o correio. O "chat" é um diálogo em tempo real, semelhante a uma sala de reuniões. A mensagem instantânea fica no meio termo, ou seja, eu posso dialogar com meus amigos sem ter a obrigatoriedade de responder na hora, como no "chat", mas me obrigando a ser razoavelmente rápido na resposta. Assim, posso ficar fazendo outras coisas ao mesmo tempo em que estou conversando com alguém, o que é ótimo.

O futuro do "chat" e das mensagens instantâneas está indo atualmente para o lado das comunicações empresariais. Têm um custo muito baixo, oferecem uma alternativa viável e mais simples aos caríssimos sistemas de teleconferência e podem ser usados tanto no ambiente de intranet, quanto na própria Internet. É cada vez maior o número de empresas que está usando o ICQ, o PowWow e outros sistemas para implementar uma rede de contatos em tempo real entre suas filiais, revendedores, vendedores em campo, e até clientes. Em função disso, diversos fornecedores de tecnologia com tradição nessa área, como a Lotus, estão entrando pesado no mercado.

Vai ser interessante observar o desenvolvimento, mas sem dúvida será a definição das "guerras" atuais e a adoção de padrões interoperacionais é que serão os fatores mais importantes de definição do futuro.
 

Para Saber Mais

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Renato M.E. Sabbatini é professor e diretor do Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas, colunista de ciência do Correio Popular, e colunista de informática do Caderno Cosmo. Email: sabbatin@nib.unicamp.br

Veja também: Índice de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no Correio Popular.



Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, .
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