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Computadores nas Escolas

Renato Sabbatini

Um novo abismo está se formando entre as nações mais desenvolvidas e o Brasil: o acesso à informação eletrônica nas escolas secundárias. As últimas estatísticas dos países da América do Norte e da Europa são impressionantes. Nos EUA, por exemplo, 96 % das escolas têm computadores, e 82 % estão conectadas à Internet. Até o final do ano todas estarão conectadas, e esta é uma das metas estratégicas mais importantes do governo Clinton, que foi fixada para o ano 2000. O próprio vice-presidente, Al Gore, que é fissurado em tecnologia, está por trás desta iniciativa e de outras, como a "supervia da informação" e a Internet 2.

No Brasil, evidentemente, existem poucas estatísticas a respeito, mas o número de escolas que têm computadores e que estão conectadas à Internet é ainda muito pequeno, mesmo entre as escolas particulares. Algumas (poucas) têm algo mais do que uma simples conexão a um provedor privado, em um micro colocado na biblioteca, que é o modelo seguido pela maioria. Já existem escolas, como a Escola Comunitária de Campinas, que têm uma "presença Internet" mais elaborada e sofisticada, com home-page desde 1995, e trabalhos colocados pelos próprios alunos na Internet. O uso das tecnologias da informação faz parte integrante da estratégia e da filosofia educacional dessas escolas; mas esse tipo de liderança ainda é muito raro em nosso meio (e mesmo nos EUA ainda deixa a desejar: as estatísticas mostram que menos de 45 % das escolas coloca os computadores e a Internet dentro das classes, em contato com os alunos, e que apenas 3 % têm uma estratégia coerente de apoio da Internet à educação). Existem diferenças significativas também entre as estatísticas de acesso das escolas particulares e públicas, e das escolas em bairros brancos e bairros de minorias étnicas.

Aqui, as escolas particulares estão por sua própria conta e obedecendo às demandas do mercado (muitos pais só colocam os filhos em escolas compromissadas com a "geração digital", pois o acesso doméstico cresceu de tal maneira que muitos alunos sabem muito mais sobre a Internet que seus pais e professores, e a utilizam diariamente, ao contrário dos adultos). O ministro da Educação, Prof. Paulo Renato, ex-reitor da UNICAMP e ex-secretário da Educação do Estado de São Paulo, instituiu este ano um dos mais ambiciosos projetos de informatização escolar do mundo, chamado Pro-Info. A meta é colocar 100 mil microcomputadores nas escolas públicas do país até o final do ano, usando uma verba de mais de 600 milhões de dólares, em parte conseguida de organismos internacionais, como o Banco Mundial. Existe grande expectativa sobre o sucesso deste gigantesco empreendimento (mais de 45 mil professores terão que ser treinados !).

Qual será o impacto dessas estatísticas sobre a educação em geral, e sobre o progresso científico e tecnológico do país ? O crescimento tem sido muito rápido e recente (nos últimos três anos tem ocorrido um crescimento anual de 100 % no número de escolas conectadas à Internet nos EUA), por isso existem poucos dados a respeito. Mas não é difícil imaginar. Escolas que sequer têm bibliotecas, passarão a ter acesso ao inacreditável universo de informação disponível na Internet. Alunos de todos os níveis adquirirão as habilidades e o conhecimento que serão cada vez mais necessários em uma economia moderna e globalizada. A internacionalização do saber e das relações humanas "virtuais" terão um impacto significativo sobre a visão do mundo dessas crianças e jovens, e sobre as nossas metas de progresso e nossos referenciais de qualidade.

O mais importante, no entanto, é que a Internet na escola provocará uma profunda e duradoura revolução nas relações entre o professor e o aluno, pois o dominio dos professores baseado no acesso ao conhecimento será desafiado pela estrutura aberta e interativa da grande rede. Se os professores não entenderem isso, vamos passar por crises no mínimo interessantes dentro da escola…

A preparação para o novo milênio, no que diz respeito à educação secundária, passa obrigatoriamente pela familiaridade de nossos jovens com a informática e a Internet. O único problema é que muitas escolas e professores ainda não perceberam isso. Ou, se perceberam, estão fazendo muito pouca coisa a respeito. Não basta colocar alguns micros na escola, com um acesso precário à Internet. É preciso fazer com que todos os alunos tenham oportunidade de usar o computador quando for necessário, tanto para fins didáticos, quanto para permitir o "aprendizado pela exploração livre", que é a forma que os jovens mais gostam e a que tem melhores resultados. Para democratizar o acesso é preciso ter uma infraestrutura material e humana muito boa, no entanto, e isso custa caro. É preciso treinar também muito bem os professores, que é caro e difícil, principalmente por problemas culturais.

Os recursos mais modernos que a Informática e a Internet colocam à disposição do professor são fantásticos, mas ainda pouco conhecidos. No Núcleo de Informática Biomédica da UNICAMP estamos pesquisando e utilizando vários deles. Um exemplo: atualmente é possível colocar uma apresentação de slides na Internet, acompanhada da voz do professor, a qual fica sincronizada com os slides, ou seja, eles vão passando na mesma seqüência e com o mesmo "timing" de uma aula. Para montar uma apresentação desse tipo basta ter algumas ferramentas de software: em primeiro lugar, os slides devem ser confeccionados em PowerPoint Office 97, da Microsoft. A nova versão tem duas características que são usadas nesse caso: a possibilidade de gravar uma narração de voz, sincronizada com a exibição dos slides (o que pode ser feito com qualquer computador multimídia que tenha um microfone e uma placa de voz), e a conversão automática para HTML, a linguagem básica de produção de hipermídia para a WWW. Depois de gravar a narração, o usuário precisa de um programa chamado RealPresenter, disponível no site da empresa RealMedia (http://www.realaudio.com). Ele pega o arquivo PPT de slides gerado pelo PowerPoint e os arquivos de som sincronizados (em formato WAV) e os combina em um único arquivo RA (RealVideo), o qual pode então ser colocado em um servidor da WWW (é imprescindível que este servidor tenha a opção de servir arquivos RealAudio e RealVideo). Em seguida, basta colocar um "link" na página da WWW, fazendo o acesso a este arquivo. Do lado do usuário, ele precisa ter um "plug-in" RealAudio Player versão 5 ou maior, que pode ser obtido gratuitamente no mesmo site, e instalado em um browser Netscape ou Internet Explorer. No site da RealAudio há vários exemplos que o leitor pode tentar.

Se não for necessária a narração de voz, pode-se exportar simplesmente a apresentação para HTML e colocá-la no servidor, sem mais cuidados. Essa função do PowerPoint (Salvar como HTML) é muito boa, pois gera tudo automaticamente, inclusive os botões de controle, sumário, as imagens com os slides, etc. Um "wizard" orienta todo o processo, que é muito fácil de fazer, e que permite várias opções. Veja vários exemplos na Central de Slides do NIB (http://www.nib.unicamp.br/slides/)

Agora, imaginem só o poder dessa solução tão simples. Uma escola pode ter uma grande quantidade de aulas gravadas no momento que o professor a ministra ao vivo. Ficam preservados os slides e a voz do professor (precisa mais do que isso ?). As aulas são então disponibilizadas no servidor WWW da escola. Os alunos podem repetir uma aula quantas vezes quiserem, podem assistir à aula se a perderam, e podem também copiar a aula para seus micros, para ver depois. Para chegar nisso, entretanto, o professor precisa aprender a fazer os slides em PowerPoint (e precisa ter acesso a um computador para isso), a classe precisa ter um projetor de vídeo acoplado a um micro com placa de som, e alguém que saiba fazer bem e rápido todas as conversões que eu mencionei acima.

Outro programa da RealMedia, chamado RealConverter, permite transformar qualquer fita de vídeo-cassete em um arquivo de RealVideo na Internet, que também pode ser visualizado sem dificuldade. Desse modo, vídeos educativos, demonstrações de laboratório, etc., podem ser armazenados no servidor e acessados pelos alunos. Um programa chamado RealPublisher facilita tremendamente o processo de publicação de um vídeo. Estamos no limiar de uma nova era na educação através da Internet. A tecnologia já existe, e está disponível. Basta aprender a usar. Vamos ousar, senhores professores ?

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Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 14 e 21/7/98.

Autor: Email: sabbatin@nib.unicamp.br

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