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A nova epidemia

Renato Sabbatini

Não bastasse a existência de vírus de computador para os sistemas DOS e Windows para pertubar nossas vidas, agora uma nova forma está invadindo os computadores de todo o mundo: os vírus de macros. Somente para os macros do utilizadissimo programa de processamento de textos Microsoft Word, muito fáceis de desenvolver, calcula-se que são descobertos entre 10 a 15 vírus novos por dia ! A ameaça de uma nova epidemia já está se concretizando, com sérias conseqüências.

Como funciona um vírus de macro ?

Macro é o nome que se dá a um pequeno programa escrito em uma linguagem específica para um determinado aplicativo. Por exemplo, um processador de textos como o Word, pode ter suas funções ampliadas através de pequenos módulos internos que executam comandos repetitivos para realizar novas tarefas que não faziam parte do programa original. Os programas de planilha eletrônica, como o Lotus e o Excel, foram os pioneiros desse tipo de recurso, por motivos óbvios, mas logo os programas de processamento de textos começaram a embutir a possibilidade do próprio usuário montar os seus macros.

A coisa funciona assim: digamos que eu quero substituir todos os números de dois dígitos que estiverem em um texto, por seus correspondentes em numerais romanos, e que depois eu pretendo aplicar o mesmo método em vários outros textos. A maneira mais fácil de desenvolver isso no Word é acionar um recurso chamado "gravador de macros". Você vai executando as operações uma a uma, e o gravador registra cada uma delas em uma seqüência, a qual se pode depois atribuir um nome e gravar no disco, juntamente com a folha de estilos daquele documento (extensão .DOT). O macro fica fazendo parte integrante da coleção de rotinas do seu processador de textos, e pode ser usado com um único clique de mouse sobre o seu nome, e repetido rapidamente, por mais complexo que seja.

Você também pode incluir novos macros, copiados de outros lugares, e este é o ponto que os desenvolvedores de vírus de macros utilizam. Se você carregar no seu Word um texto que esteja com seu DOT conrrespondente "infectado" com um vírus, ou seja, tendo um macro clandestinamente inserido, e que realiza coisas deletérias com seu computador, ele vem junto e seu programa fica infectado também, assim como todos os textos que você gravar no futuro. Esse texto "infectado" pode ter sido distribuído por correio eletrônico como attachment (um arquivo que pode ser transportado para o destinatário, junto com a mensagem de email): ao abrí-lo você se infecta.

As linguagens de desenvolvimento de macros são extremamente poderosas, e permitem fazer muitas tarefas complexas (e com maior potencial de dano) no computador que executa o macro infectado. A solução é ter programas de detecção de vírus capazes de identificar e remover os vírus de macros, também. O VirusScan da empresa americana McAfee (www.mcaffee.com) já tem esse recurso e é capaz de pegar os vírus de macro mais antigos e comuns, mas a velocidade de aparecimento de novos vírus de macro exige que o usuário consiga todo mês uma nova versão do arquivo de definição de vírus. Dá muito trabalho, portanto, e 90 % dos usuários não têm o conhecimento necessário para fazer isso sistematicamente. A solução mais permanente seria tentarmos imitar o nosso próprio organismo, em sua luta contra os invasores, e construir uma espécie de "sistema imune" artificial, o qual, como o do nosso organismo, é "programado" biologicamente para reconhecer automaticamente e combater qualquer coisa que seja estranha e não conhecida pelo organismo, mesmo que nunca tenha sido encontrada antes. Nesse sentido, vários centros de pesquisa de universidades e empresas estão desenvolvendo programas capazes de serem treinados a reconhecer vírus de macro automaticamente. No Centro de Pesquisa Thomas J. Watson da IBM, nos Estados Unidos, existe um grupo de pesquisas que desenvolveu um antivirus extremamente sofisticado, para fazer exatamente isso. O programa utiliza uma tecnologia de Inteligência Artificial chamada de "redes neurais", para examinar um macro e decidir se ele é um vírus ou um macro "legítimo". Para ser capaz de fazer isso, ele têm a capacidade de aprendizado, ou seja, seus criadores o alimentam com centenas de vírus de macro já disponíveis (o lugar onde eles são armazenados é chamado de "zoológico" ou de "fazenda"...) e a rede neural aprende a identificar novos vírus que ainda não conhece, mesmo que sejam inteiramente novos, e alertar o usuário.

Felizmente, acredito que as novas versões do Word deverão sanar esse problema, ao incluir detectores "imunológicos" desse tipo. Atualmente, para se proteger contra vírus de macro, você deve habilitar uma opção do Word que te avisa se algum macro externo está presente e pode ser um vírus em potencial. Você deve responder sempre negativamente à essa opção, se ela ocorrer, e logo em seguida executar uma versão a mais atualizada possível do VirusScan.


 

Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 9/12/97

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