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Revolução contínua

Renato Sabbatini

Quando Mao Ze Dong (que no meu tempo se escrevia Mao Tsé Tung), o legendário lider comunista chinês lançou o conceito da revolução contínua da sociedade, ele certamente não estava pensando na Internet, pois ela existia apenas como um sonho distante na cabeça de alguns visionários. Mas é o que estamos conseguindo hoje, 30 anos depois: uma revolução sem precedentes e sem limites no que será a informatização final das sociedades avançadas.

Estava pensando nessas coisas ao ler as primeiras notícias vindas do Comdex Fall 97, a grande feira americana de tecnologia, onde as empresas aproveitam para fazer previsões bombásticas sobre o futuro, e apresentar muitos produtos novos para o presente.

Uma das apresentações de maior impacto foi (adivinhe quem ?) do Sr. Bill Gates, omnipresente gurú e grande faturador em cima das novas ondas. Ao lado de Kareem Abdul-Jabbar, o conhecidissimo jogador de basquete, ele fez uma demonstração simples sobre o que o futuro nos aguarda. Entrando na Internet, ele comprou um CD de Herbie Hancock, em um site que vende música. Em seguida, ele baixou (em poucos minutos...) o CD inteirinho para o seu laptop, armazenando em um gravador de CD-ROM. Em seguida, inseriu o CD assim gerado em um sistema de som portátil e tocou a música de altissima fidelidade...tudo isso enquanto falava !

Gates também demonstrou um novo conceito chamado "Internet mirroring". A um preço muito baixo, você pode copiar todo o seu disco rígido (‘espelhamento") em um servidor ligado à Internet. Isso será feito automaticamente pelo software, sem que você precise se preocupar, aumentando bastante a segurança de seus dados.

A IBM não ficou atrás em matéria de impacto. A empresa anunciou o protótipo de um "veículo em rede", ou seja, um automóvel permanentemente conectado à Internet através de uma antena de DirectTV, embutida no teto. Os passageiros do banco de trás podem usar monitores embutidos nos bancos da frente para acessar a Internet, usar Windows 95 ou jogar videogames, e o motorista pode dar comandos ao seu computador por meio da voz, recebendo correio eletrônico também por voz sintetizada, sem perigo para a direção. Um pequeno monitor no console pode mostrar centenas de mapas de estradas e de cidades do mundo todo, e localizar restaurantes, postos de gasolina, hotéis, etc. Existe também um telefone celular integrado e um HUD (Head Up Display), um sistema de projeção que joga por reflexão, no parabrisas do carro, uma imagem da tela do computador, de modo que o motorista não precisa desviar os olhos da estrada para checar as informações do computador. Esse sistema funciona há muitos anos em aviões de caça e é usado pelos pilotos para comandar a aviônica de bordo. O carro foi desenvoldio em conjunto com a Sun Microsistems, a Delco Electronics e a Netscape Communications. Segundo os desenvolvedores, uma versão comercial do "kit" de instalação em qualquer tipo de carro estará pronta dentro de 18 meses, e no máximo em quatro ou cinco anos eles prevêm que a maioria dos carros poderão sair da linha de produção já com essas opções instaladas. Aliás, a Mercedes Benz foi a primeira a demonstrar um carro desse tipo no último Salão do Automóvel de Tóquio.

O presidente da conhecida Compaq Corporation, um dos maiores fabricantes de PCs do mundo, também fez o seu show particular. Ele afirmou que antes do final do século os PCs estarão presentes às dezenas dentro de uma casa de classe média. Um servidor no porão alimentará microcomputadores espalhados por todos os aposentos, ligando todos à Internet, inclusive telefones capazes de trabalhar com correio eletrônico, aparelhos eletrodomésticos programáveis à distância, aparelhos de TV e rádio, além de computadores pessoais portáteis e de mesa. A maioria desses computadores custará entre 100 a 500 dólares. Uma nova investida da Intel nesse sentido pretende baixar dramaticamente os preços de chips para microcomputadores, de modo que o preço de um Pentium 200 possa cair para menos de 1 mil dólares em menos de um ano. Segundo a Intel, isso vai aumentar enormemente o mercado. Atualmente cerca de 40 % das famílias americanas têm PCs em casa: o objetivo é chegar a mais de 80 %, o que significa decuplicar o número de computadores em famílias de baixa renda. O impacto disso no acesso à informação e na educação é inimaginável !

O ritmo das revoluções se acelera. Resta saber se nossos pobres cérebros vão conseguir agüentar e acompanhar tantas novidades, antes de enlouquecerem....


 

Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 25/11/97

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