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Robô não é gente

 Renato Sabbatini

 


 

Os robôs voltaram à moda. O "rover" Sojourner (robô móvel sobre rodas) que desceu em Marte e, sob comando terrestre, começou a explorar o terreno e as rochas ao seu redor, foi uma das coisas que voltou a provocar a atenção dos jornais, revistas e TV sobre os robôs, que estavam algo esquecidos. Na semana passada, um robô notavelmente parecido com um astronauta estreou em uma empresa japonesa de alta tecnologia. Ele é capaz de subir e descer escadas, evitar obstáculos, etc., de forma autônoma (ou seja, não é necessário um ser humano ficar controlando de longe o robô, como acontece com o Mars Pathfinder.

 Porque os robôs ficaram afastados todo esse tempo do interesse público ?. A resposta é que os robôs em existência atualmente são pouco autônomos ou inteligentes. A maioria dos robôs comerciais é usado em linhas de produção industrial, para efetuar soldas, pintar latarias, etc. Eles não podem ser classificados de robôs verdadeiros, pois não são autônomos, ou seja, eles apenas são capazes de repetir infinitamente e com grande precisão uma série de movimentos de seus braços ou ferramentas, previamente programados por um ser humano. Os objetos a serem manipulados por esses robôs industriais precisam ser posicionados por esteiras com uma grande precisão, senão o robô "erra" todas as tarefas que tem que realizar.

 Existem ainda poucos robôs "inteligentes". Esses robôs, que formam uma base ainda extremamente primitiva para os robôs do futuro, são flexíveis e autônomos. Os especialistas usam a palavra "adaptativo" para descrever um dispositivo que é capaz de modificar suas ações em função de mudanças no ambiente. Por exemplo, se a porta de um automóvel que precisa ser soldada é colocada em um ponto ligeiramente deslocado em relação ao ideal, o robô é capaz de achar sozinho onde deve realizar a tarefa, sem ficar bloqueado ou provocar um desastre.

 Isso é fácil de falar, mas extremamente difícil de fazer. Significa, tecnicamente, que o robô capaz dessa proeza precisa ter um sistema de sensores especializados, e os mesmos devem fornecer informações complexas ao "cérebro" (o computador interno) que controla os movimentos do robô, de modo a proporcionar algum tipo de "coordenação sensorial-motora". Esses sensores, como acontece em um ser humano, podem ser auditivos, visuais (visão mono ou binocular), táteis, etc. Utiliza-se muito sensores de ultrassom (uma espécie de sonar, que permite a detecção de obstáculos ao redor do robô) e de laser (reconhecimento de objetos tridimensionais). O ALV (Autonomous Land Vehicle, ou Veículo Terrestre Autônomo, que é o nome científico correto para o robozinho marciano da NASA) tem vários desses sensores.

 Fazer um programa capaz de combinar todas as "sensações" possíveis com os movimentos que podem ser realizados por um robô é infernalmente difícil, e não consegue contemplar todas as alternativas. Basta ver que o robô marciano enguiçou várias vezes em seu percurso, ao ficar com uma roda no ar, tropeçar em uma pedra e não conseguir se livrar dela, etc. O último problema foi uma pedrinha que entrou entre a suspensão e as rodas do "rover". Se este fosse um ser vivo, ele teria patas, mãos ou focinho, para rapidamente arrancar a pedrinha incômoda. No caso, ele fica totalmente inutilizado se alguém não conseguir arranjar um truque para se livrar do incômodo.

 O futuro dos robôs realmente inteligentes está no acoplamento da Inteligência Artificial com a Robótica, duas disciplinas que já estão bastantes interligadas. Uma tecnologia denominada de "redes neurais artificiais" procura imitar a organização e o funcionamento do cérebro através de elementos artificiais que se comportam como redes de neurônios (a célula básica do sistema nervoso), só que utilizando microchips de silício. As redes neurais têm a grande vantagem de poderem aprender tarefas complexas, como reconhecer obstáculos em três dimensões, controlar movimentos das juntas dos braços robóticos, etc. Os primeiros robôs que incorporam essa tecnologia têm demonstrado capacidades impressionantes de flexibilidade e adaptabilidade. Estima-se que um robô autônomo terá algumas centenas desses pequenos "cérebros", controlados por um computador maior, que agirão de forma integrada com os sensores e motores, exatamente como acontece com um sistema nervoso real. Reflexos, decisões inteligentes e sistemas automáticos tornarão os robôs do futuro muito parecidos com o que a ficção científica de Isaac Asimov e outros anteciparam de forma tão marcante. O difícil é imaginar quanto tempo isso vai demorar.


 

Recursos Interessantes na Internet:

 

Robot Control Based on Neural Networks (CONNY): um projeto europeu para robôs espaciais

http://www.cordis.lu/esprit/src/results/pages/transpor/transp3.htm

 

Virtual Reality Models of the Mars Rover (NASA):

http://mpfwww.jpl.nasa.gov/vrml/vrml.html


 

Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 05//8/97.

Autor: Email: sabbatin@nib.unicamp.br
WWW: http://home.nib.unicamp.br/~sabbatin Jornal: http://www.cpopular.com.br


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