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O papel inteligente


Renato Sabbatini

Nicholas Negroponte é uma espécie de gurú máximo dos internautas e fissurados por multimídia, em geral. Ele é professor titular do famosissimo MIT (Massachussets Institute of Technology), em Cambridge, ao lado de Boston, e fundador e diretor do não menos famoso Media Lab, um caldeirão fervente de idéias sobre como serão as mídias do próximo século.

Com verbas milionárias, dadas por empresas como Sony, Warner, NBC, etc., Negroponte e sua turminha de visionários está traçando os limites do que será a imprensa, a televisão, a Internet do futuro; e explorando novas idéias de mídias que ainda não existem. É um grupo multidisciplinar de gênios, envolvendo desde "nerds" das ciências da computação, até designers gráficos, jornalistas e produtores de vídeo. Enfim, um paraíso da inovação e das idéias "far out".

Nick, como gosta de ser chamado, é um desses gênios modernos, que conseguem enxergar mudanças de paradigmas onde outros não vêem nada. Seu livro, "Ser Digital", é um fenômeno. Dez vezes melhor do que o livrinho mixuruca de outro gênio (mercadológico, não científico) da Informática, Bill Gates, o dono da Microsoft; e cheio de idéias provocadoras, que poderão levar ou não a invenções fundamentais.

Outra atividade muito apreciada do Prof. Negroponte é sua coluna mensal na última página da revista "Wired", uma publicação "cult" dos internautas. Alí, ele apresenta e discute as idéias mais revolucionárias e especulativas. A revista tem um site excelente e visionário na Internet, inclusive com entrevistas diárias via Real Audio, com personalidades importantes E foi no último número da Wired que Negroponte fez uma das mais ousadas de suas previsões (que ele, como bom diretor de laboratório de pesquisa, já botou alguém para trabalhar em cima...): o papel "inteligente" !

A idéia é que o papel, exatamente com a aparência, flexibilidade e portabilidade que ele tem hoje, se transforme na tela de um computador. O Midia Lab está investigando a possibilidade de colocar milhões de glóbulos microscópicos de tinta presos, a uma matriz sobre o papel, onde cada glóbulo pode ficar preto ou branco, conforme uma corrente elétrica que passar por eles. Assim, cada pontinho do papel pode ser usado para montar letras, desenhos, fotos, etc., exatamente como acontece em uma tela LCD de computador portátil ou calculadora. Imaginem, então, que loucura: uma folha de jornal, que poderá ser dobrada, carregada no bolso, etc., receberá via rádio, continuamente, noticias emitidas pela empresa jornalística, e as exibirá no "papel inteligente". O papel, que hoje é estático, imutável, passará a ser dinâmico e em continua mudança ! Será uma revolução sem precedentes, pois um dos maiores obstáculos ao uso generalizado do computador para substituir a imprensa é justamente a conveniência imbatível do papel, que não precisa de nada de especial para ser lido.

Mas a imaginação não para por aqui. Como disse o escritor Arthur Koestler, criatividade é a capacidade de criar pontes entre duas coisas, onde elas não existiam antes. O próximo passo é acoplar a tecnologia da Internet à do papel inteligente. Imaginem só as implicações disso. Ao dotar o meu "papel inteligente" de capacidade de comunicação bidirecional via rádio com a Internet, as possibilidades ficam infinitas. Por exemplo, o jornal pode se transformar em um menu sensível ao toque. Ao tocar o dedo em um ítem de notícia, imagem ou link da Internet, poderei receber uma notícia mais aprofundada, análises especializadas, acesso a bancos de imagens, revistas eletrônicas, ou "sites" interessantes, com mais informação.

Será possível tudo isso no futuro ? A resposta é sim, pois a tecnologia está pronta, ou evoluirá para isso no futuro. Já existem processadores poderosos (‘chips"), que podem ser embutidos em cartões de crédito, não faltaria muito para eles terem a espessura de uma folha de papel, e serem totalmente flexíveis. Os transmisssores de rádio, que cabem hoje em um bipe do tamanho de uma caixa de fósforos, também poderão ser miniaturizados da mesma forma, com a antena sendo um laço de fio flexível, ao longo das bordas da página do jornal.

Parece ficção científica, mas são coisas que já estão praticamente em nossas portas.
 

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Renato M.E. Sabbatini é professor e diretor associado do Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas, colunista de ciência do Correio Popular, e colunista de informática do Caderno Cosmo. Email: sabbatin@nib.unicamp.br

Veja também: Índice de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no Correio Popular.



Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 28/1/97 .
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