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Navegando no celular

 

Renato Sabbatini


Nos próximos doze meses assistiremos ao nascimento de uma nova Internet, dentro daquela que já conhecemos. É a Internet/WAP, que poderá ser acessada a partir de telefones celulares, palmtops, pagers, e outros dispositivos digitais portáteis, através de enlaces de rádio. WAP significa Wireless Application Protocol, e é a última palavra em matéria de padrão de conectividade da Internet. Está sendo adotado rapidamente por praticamente 100% dos fabricantes e pelas empresas de telecomunicação. Aliás, o grande congresso UIT Telecom 2000, realizado há duas semanas atrás, só falava de um conceito realmente excitante e com potencial grande de mudança: a tal da convergência, que é o fornecimento de serviços de acesso celular, pager, telefonia fixa, rádio, TV e comunicação de dados (rede) através de um único meio de banda larga (fibra ótica ou satélite, geralmente).

Devido ao pequeno tamanho da tela dos portáteis, e a algumas outras peculiariedades do protocolo TCP/IP, que é a "linguagem-mãe" da Internet e da Web, o protocolo WAP representa uma solução elegante, mas que vai obrigar os fornecedores de conteúdos e serviços, como os portais, a formatarem seus produtos da Web especialmente para o WAP. Megaportais, como o Yahoo! e a StarMedia já anunciaram grandes parcerias nesse sentido. Nos EUA, dos cerca de 2,5 milhões de usuários da AT&T, por exemplo, cerca de 300 mil já acessam a Internet a partir de seus aparelhos celulares, mas a própria empresa prevê um crescimento enorme ao longo deste ano, tanto é que está tentando captar cerca de 18 bilhões de dólares no lançamento público de ações dentro das próximas semanas. O desenvolvimento de conteúdo para o sistema WAP utiliza a linguagem WML (WAP Marking Language), relacionada ao HTML, que é usada nos sites normais.

O que se vai poder fazer na Internet com um aparelho portátil? Evidentemente, com as limitações de não ter um teclado alfanumérico decente (quem já tentou cadastrar números de telefone no seu celular sabe do que eu estou falando...) e a tela ainda ser pequena e sem cores, a rica experiência de navegar na Web, como a conhecemos hoje através dos desktops ou notebooks, fica muito prejudicada, principalmente quando há imagens e muitas informações em uma tela. Outro fator que pesará muito será o preço. Nos EUA, o serviço da AT&T cobra até 150 dólares por mês de uma pessoa que gastar uma hora por dia acessando a Internet através do celular. Uma conta salgada, que não pode ser paga por todos. No Brasil já existem vários sites dedicados aos serviços WAP, também, tais como o OndeFor (www.ondefor.com.br), lançado pela operadora Tess.

Assim, creio que o maior uso da Internet via celular ou palmtop será o de ler emails e obter basicamente informações rápidas de consulta em sites especialmente projetados, tais como lista telefônica, informações sobre hotéis, passagens, endereços, notícias sobre trânsito, bolsa de valores e outros investimentos, valor do dólar, acesso a contas bancárias. Os portais genéricos terão grande vantagem, pois a navegação será através de menus ou ícones simplificados, de modo que o usuário não seja obrigado a digitar muitas coisas. Por outro lado, deve permitir também fazer buscas por palavras-chave em todo o conjunto de sites formatados para WAP. No futuro, as telas ficarão coloridas e com maior resolução e capacidade, mas mesmo assim é difícil imaginar que a Web atual venha a ser acessada e navegada em aparelhos tão pequenos.

De qualquer forma, como o número de usuários vai ser imenso (o professor Nicholas Negroponte, do MIT, estima que entre 1 a 2 bilhões de pessoas estarão usando a Internet através do WAP até o ano 2005, o que é cinco a dez vezes o número atual de usuários. O impacto sobre o tráfego na Internet vai ser realmente impressionante, e certamente o preço da conexão também vai cair. É fascinante imaginar o mundo de informação que teremos disponível na ponta dos dedos, em qualquer lugar do planeta. Com a substituição dos atuais padrões CDMA e TDMA, os mais usados em telefonia celular digital, por outro em que seja possível a comunicação bidirecional de alta velocidade, estará inaugurada uma era de grande expansão da "bolha de informação" que hoje, cada vez mais, nos cerca por todos os lados.

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Renato M.E. Sabbatini é professor e diretor associado do Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas, colunista de ciência do Correio Popular, e colunista de informática do Caderno Cosmo. Email: sabbatin@nib.unicamp.br

Veja também: Índice de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no Correio Popular.



Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 28/4/2000 .
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