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O preço da informação

Renato M.E. Sabbatini

No ano passado participei de um congresso em Vancouver em que um dos seminários versava sobre um tema futurista: o dia em que todo o planeta for totalmente unido por uma única rede de computadores... Um dos palestrantes, um professor extremamente brilhante da Fundação Everett Koop (nome do ex-cirurgião geral dos EUA no governo Reagan) falou sobre como poderia evoluir o custo da informação neste cenário. A frase que me mais me fascinou entre as muitas que ele falou, ficou marcada uma em meu espírito: a de que o objetivo dessa rede é que o custo da informação seja zero !

Isso parece uma coisa utópica e irreal, pois afinal todo mundo sabe que custa muito caro coletar e disponibilizar qualquer tipo de informação para um público-alvo. Alguém tem que pagar esse custo, e o modelo tradicional das revistas e dos bancos de dados dedicados é repassar esse custo para o usuário, com a devida margem de lucro. Surgiram milhares de empresas de CD-ROM, provedores de informação on-line, etc., e isso virou um dos setores de maior relevância de uma economia que se baseia cada vez mais em serviços e em informação.

No entanto, a concorrência de projetos que oferecem bancos de dados imensos a um custo nulo para os usuários, principalmente na Internet, está aumentando cada vez mais, e torna difícil a vida das empresas que tentam se sustentar através dessa atividade. Tomo três casos como exemplo. O primeiro, desenvolvido pelo governo americano, é o Visible Human Project (Projeto Ser Humano Visível, http://www.vhd.org.br), desenvolvido ao custo de 2,5 milhões de dólares pala Biblioteca Nacional de Medicina (http://www.nlm.nih.gov). São imagens obtidas a partir de cadáveres (de um homem e de uma mulher), que incluem cortes anatômicos e de tomografia. Pois bem, essa base de imagens (65 gigabytes de tamanho, aproximadamente, com 19.000 imagens) não custa nada para o usuário da Internet. Para quem não tem conexão à Internet, ele é comercializado por empresas especializadas. Comprei recentemente eo CD-ROM que contém cerca de 1.800 anatômicas do homem. Preço: US$ 9,90 (mal paga a caixinha de papelão e o disquinho CD onde veio gravado) ! Fiz a conta: são US$ 0.000000825 dólares por byte. Bem próxima de zero...

Outro exemplo é o índice Altavista, colocado na Internet pela empresa Digital Equipment Corporation, um dos pioneiros da indústria de Informática e o segundo maior fabricante de computadores do mundo. O Altavista oferece acesso gratuito a uma base de endereços da Internet que é simplesmente fabulosa. Na última vez que consultei, tinha quase 30 milhões de documentos, com 15 bilhões de palavras. Detalhe: seus computadores, poderosíssimos, conseguem realizar uma busca em pouco menos de um minuto, na maioria das vezes. Os computadores do Altavista (endereço: http://www.altavista.digital.com) são o que a Digital tem de mais veloz. Onde a Digital arruma fundos para cobrir esses custos ? Simples: através da propaganda e venda de uma linha de servidores para Internet e Intranets, que, coincidentemente, têm o codinome de Altavista...)

O terceiro exemplo é uma revista científica brasileira, ("The OnLine Journal of Plastic and Reconstructive Surgery"), que é realizada em Campinas (na SOBRAPAR), e que foi a primeira revista brasileira registrada na Internet., e a primeira exclusivamente on-line na área (endereço: http://www.epub.org.br/OJPRS). Embora tenha artigos com texto completo, seu acesso é inteiramente gratuito. Como ela, já existem centenas de revistas e jornais eletrônicos que nada cobram de seus assinantes.

É um fenômeno intrigante, que cria um diferencial fatal para quem cobra pela informação. Quem não cobra, naturalmente, acaba sendo acessado muito mais. O que nos leva a concluir que talvez o professor acima mencionado está correto em prever uma era em que a informação terá custo direto zero para o usuário.


Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 28/5/96
Autor: Email: sabbatin@nib.unicamp.br

WWW: http://www.nib.unicamp.br/sabbatin.htmJornal: cpopular@cpopular.com.br


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