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As cidades eletrônicas

Renato M.E. Sabbatini

Uma das "invenções" mais fantásticas da Internet, a gigantesca rede mundial de computadores, são as chamadas FreeNets, ou redes de acesso público e gratuito. A coisa funciona assim: uma determinada cidade resolve "bancar" o acesso de seus cidadãos à Internet, subsidiando a instalação de uma infraestrutura computacional e de telecomunicações, e sua operação. Existem cerca de 30 FreeNets nos EUA, onde nasceu a idéia, com um número de 340 mil usuários. A pioneira foi a FreeNet Cleveland, uma cidade do estado de Ohio. O resultado foi tão interessante, que foi copiado por muitas outras prefeituras, que viram nisso uma maneira de melhorar o acesso dos seus cidadãos à informação, bem como proporcionar uma série de serviços sociais, culturais e artísticos. Os usuários da FreeNet contribuem com 15 dólares por ano, como taxa de manutenção.

A FreeNet pode ser acessada a partir de qualquer nodo da Internet, ou então via acessos discados (linhas telefônicas ligadas a modems, que podem ser chamadas de fora, por qualquer microcomputador). As formas de acesso implementadas variam bastante, e vão desde correio eletrônico (email), até WWW e Mosaic (acesso gráfico e multimídia à Internet). A mais comum é uma interface não gráfica, orientada a caracteres, como um menu tipo Gopher. A FreeNet de Cleveland, por exemplo, tem um menu geral, que, de forma muito interessante, dá acesso às várias fontes de informação sobre a cidade, que é organizado como se fosse um catálogo dos prédios, praças e centros da cidade: a prefeitura, os correios, a praça pública, o fórum de justiça, a escola, o centro comunitário e de esportes, o parque industrial, a biblioteca pública, a universidade, o hospital, o teatro, a galeria de arte, o centro de ciência e tecnologia, etc. Em cada "prédio" dessa cidade virtual, o visitante pode navegar por outros menus, contendo uma grande quantidade de informação sobre a cidade, seus serviços, sua informação, pessoas e instituições. Por exemplo, a FreeNet de Los Angeles tem um "centro de saúde", que dá informações sobre diabetes, câncer, doenças cerebrais, abuso de drogas, AIDS e muitas outras doenças. Os cidadãos podem enviar mensagens anônimas, contendo perguntas sobre doenças e sintomas. O Consultório Médico, uma das áreas do Centro de Saúde, tem médicos de plantão, que respondem gratuitamente a essas perguntas e orientam o cidadão quem ele deve procurar, e qual o problema provável (para evitar problemas legais, essas orientações não incluem diagnósticos diretos ou orientações para tratamento). A maioria das orientações se referem à educação dos pacientes, ou seja, informações científicas sobre as doenças e como evitá-las (medicina preventiva), ou como se manter saudável através de exercícios, dietas, etc.. Os médicos ligados ao sistema (somente em Los Angeles são mais de 10 mil médicos usuários do sistema !) têm também uma grande lista de recursos disponíveis na Internet. Até os estudantes médicos têm o seu próprio quadro de avisos.

Outras áreas bastante ativas das FreeNets são as contendo informações educacionais, como escolher a escola mais próxima para seus filhos, o nome e o currículo dos professores, os livros e revistas contidos nas bibliotecas, informações sobre todos os cursos oferecidos nas universidades da cidade, softwares educacionais que podem ser copiados gratuitamente, etc. Os pais podem "conversar" entre si, usando uma Associação de Pais e Mestres "virtual", bem como mandar mensagens para os professores de seus filhos, diretores de escolas, etc., que também estão na rede. O acesso à Internet permite que os próprios alunos a explorem a procura de informações para fazer trabalhos escolares, por exemplo,ou para ter "pen pals" (correspondentes) em outras cidades e países. O potencial educacional das FreeNets é simplesmente fantástico, e está apenas começando a ser explorado, mesmo nos EUA.

No Brasil não existe nenhuma FreeNet ainda (aliás, como elas se chamarão, em português, senhores "gurus" da RNP ?). Mas planeja-se ter-se umas 15 ou 20, a médio prazo. Nossa cidade, Campinas, por ter o privilégio de ser o lar da RNP, a Rede Nacional de Pesquisa, que é o órgão coordenador da Internet no Brasil, provavelmente será a primeira FreeNet brasileira, através de um convênio de cooperação com a Prefeitura Municipal, que recebeu o nome de Projeto Alfa. Escolas, centros de saúde e departamentos da prefeitura serão os primeiros a serem interligados, utilizando-se, provavelmente a rede de fios usados pelas Tvs a cabo, de acordo com uma legislação recente, que permite reservar uma parte de sua capacidade para redes digitais de comunicação tipo Projeto Alfa.

Vai ser o maior "barato".


Publicado em: Jornal Correio Popular, Caderno de Informática, 20/6/95, Campinas
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