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O ajudante digital

Renato M.E. Sabbatini

Os PDAs (Personal Digital Assistant, ou Assistente Digital Pessoal) são a onda do futuro. Ou não são ? Inaugurada a onda com o Newton, um produto considerado revolucionário da Apple Computer, dos EUA, até agora parece estar 'pegando" devagar. Seu futuro depende de algumas inovações tecnológicas, como o uso de comandos de voz e o reconhecimento automático da escrita manual, que ainda não estão suficientemente maduros para aplicação prática.

O que é um PDA ? É um potente computador portátil, do tamanho de um bloco de anotações, que não tem teclado. A entrada de dados e de comandos pode ser feito de duas maneiras: escrevendo-se à mão livre com uma caneta sobre a tela de cristal líquido (que ocupa quase toda a frente do computador), ou falando-se em um microfone embutido. O software (programa) embutido no PDA reconhece automaticamente a letra ou a voz do usuário e converte para texto computadorizado normal (ASCII). O usuário também pode desenhar figuras geométricas à mão livre, que são convertidas automaticamente em círculos, retângulos, etc., perfeitos.

Outra característica importante do PDA é o software operacional, ou seja, o programa responsável pela operação de rotina do computador. Ele procura aproveitar as características do modo de interação do usuário com a máquina, que recebe o nome técnico de "pen-based computing" em inglês, ou seja, computação baseada em caneta. É uma interface gráfica, de uso muito fácil e intuititivo, que tem características semelhantes às do Windows (um software operacional): uso de "menus" (listas de coisas para fazer), de "janelas" (a tela é dividida em áreas retangulares, cada uma contendo um programa aplicativo ou informação), ícones (pequenos símbolos gráficos que identificam rapidamente as tarefas e funções do computador), etc. Para certas aplicações, os PDAs utilizam bastante o conceito de formulário, ou seja, aparecem áreas (campos) na tela, específicos para o ingresso de determinadas informações pelo usuário, usando a caneta.

A portabilidade dos PDAs e a sua facilidade de uso (quase que sem necessidade de treinamento por parte do usuário), são dois dos seus maiores trunfos. Não cabem exatamente no bolso da camisa, mas se encaixam no bolso do avental ou do paletó, e são facilmente transportados em maletas de executivos (pesam pouco mais de 1,5 kg). São energizados por meio de baterias recarregáveis, de longa duração.

Uma das áreas em que os PDAs vem encontrando crescente aplicação é a Medicina. Nos últimos dois anos surgiram nos EUA diversos tipos de programas para dotar o médico e a enfermeira de um verdadeiro "arsenal" de informações portáteis sobre seus pacientes, as doenças e seus tratamentos. Ao que tudo indica, eles estão adorando. Em um PDA, por exemplo, o médico pode fazer anotações sobre os pacientes internados, quando passa a visita toda manhã. Se for necessário, pode acionar programas que auxiliam o tratamento, como listas de antibióticos e sua dosagem, programas que recomendam a melhor terapia, fazem cálculos complexos ou ajudam a "fechar" um diagnóstico, etc. Se ligar o PDA a um soquete telefônico, poderá ter acesso instantâneo a outros computadores, como o do próprio hospital, ou então enviar correio eletrônico para um colega de outra cidade, estado ou país. Poderá, também, realizar uma pesquisa bibliográfica, usando bancos de dados remotos, e localizar artigos importantes para orientar o tratamento de um determinado paciente. Alguns PDAs podem ser acoplados a telefones celulares, dando uma portabilidade maior ainda. Podem funcionar como máquinas de fax portáteis, também. Esse tipo de aplicação do PDA está sendo chamado de "computação ubíqua", ou seja, o computador anda junto com você, está em todo lugar.

Nem tudo é maravilha, entretanto. O software que reconhece a letra do usuário (principalmente se for letra de médico !) não funciona bem, dá muitos erros, e é muito lento. Por outro lado, ainda não existem produtos comerciais confiáveis que utilizam reconhecimento de voz. Para cúmulo da infelicidade (dos fabricantes de PDAs), existem ainda muito poucos programas aplicativos para essas máquinas, uma vez que o mercado para elas ainda não começou a se desenvolver.

Existe pouca dúvida que a tecnologia inovadora dos PDAs será a onda do futuro. Entretanto, se ela não cumprir as promessas feitas, existe grande possibilidade dos PDAs se transformarem em mais um videodisco da vida, ou seja, algo que se esperava vender milhões de unidades, mas que nunca levaram a um mercado de massa.

Por outro lado, os japoneses estão começando a investir no desenvolvimento de PDAs mais baratos, leves e potentes. Para eles, escrever à mão livre é uma coisa mais natural, devido às dificuldades da escrita ideográfica tradicional. O teclado para o idioma japonês é algo absurdo de ser concretizado com eficácia. Além disso, como o japonês falado é bastante fonético, com vogais abertas, sílabas bem formadas, etc., e uma gramática simplificada, as interfaces de reconhecimento de voz têm grande interesse no país. Vejamos.


Publicado em: Jornal Correio Popular, Caderno de Informática, 25/10/94, Campinas,
Autor: sabbatin@nib.unicamp.br
Jornal: cpopular@cpopular.com.br