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A era da informação

Renato M.E. Sabbatini

Os novos meios de armazenar e recuperar informações através de computadores estão provocando um aumento exponencial na montanha de fatos e dados que temos que processar diariamente. No artigo anterior, citei o exemplo do CD-ROM, que é uma espécie de disco óptico, ou seja, onde a informação é gravada e lida através de um feixe de raio laser (é a mesma tecnologia do disco CD, só que para dados digitais que podem ser lidos por computador). Um pequeno disco desses armazena o equivalente a 200 livros de cerca de 200 páginas cada um, que podem ser pesquisados e lidos na tela do computador, página por página, como um livro "de verdade", ou através de poderosos programas de computador que permitem efetuar buscas por meio de palavras-chave.

Em uma enciclopédia multimídia editada pela empresa norte-americana Microsoft, a versão eletrônica (denominada Encarta) bate de longe em utilidade, agilidade e conteúdo a sua versão em papel, que ocupa cerca de 24 volumes. A edição em multimídia significa que, além de textos, ilustrações, fotos e mapas, o disco CD pode conter seqüências de imagens em disco, gravações de vozes e de sons, músicas, etc. Por exemplo, se quisermos procurar todos os verbetes que tratam de Beethoven, simplesmente digitamos o nome do compositor e o programa de acesso à enciclopédia encontrará, em poucos segundos, todos os textos, imagens e sons a ele relacionados (na Encarta, são 67 ítens ao todo). Entre eles: imagens do compositor (tão perfeitas quanto as impressas), trechos musicais de suas obras mais importantes (gravações de alta qualidade, em som estéreo, que podem ser ouvidas nos alto-falantes do computador, simplesmente pressionando-se uma tecla), etc.

O mais fascinante, entretanto, são os elos de ligação entre partes correlacionadas da enciclopédia, que podem ser exploradas, através de um recurso denominado hipertexto. Por exemplo, no texto contendo a biografia de Beethoven, existem palavras escritas em uma cor diferente, que, ao serem selecionadas pelo usuário, remetem a outros verbetes (romantismo, sinfonia, Napoleão, Mozart, Bonn, etc.). Isso pode dar início a uma verdadeira "viagem" ou "navegação" dentro da enciclopédia, explorando os inúmeros caminhos do labirinto do saber. Do romantismo podemos ler sobre Brahms, Liszt e Wagner, ópera, mitologia nórdica, literatura romântica. De Napoleão, podemos pular para a batalha de Waterloo (explicada de modo sensacional, através de um desenho animado que mostra a movimentação das forças francesas, inglesas e prussianas, hora a hora), de Bonn e Bismarck para a história da unificação alemã, mapas do país, fotos antigas e modernas da cidade, o muro de Berlim (contendo um filminho sonoro, que mostra o mesmo sendo derrubado). É fácil ficar horas e horas perdido no devaneio, no passeio, na aventura de aprender. É uma loucura.

Estão surgindo milhares de publicações eletrônicas desse tipo,em todo o mundo. Uma das áreas que mais se expandem é a Medicina. Muitas revistas médicas são reproduzidas e distribuidas em CD-ROM, assim como livros de texto, bancos de dados bibliográficos, etc. (os títulos e resumos de todos trabalhos publicados sobre Medicina no mundo, cerca de 500.000 por ano, cabem em um único CD-ROM e podem ser comprados por cerca de 500 dólares, ou seja, 0,01 centavo de dólar por trabalho !). Em outro CD-ROM, recentemente publicado, a famosa Clinica Mayo, dos EUA (onde vão fazer seus check-ups nove entre 10 milionários brasileiros) oferece uma fabulosa enciclopédica médica familiar, voltada ao público leigo. Entretanto, ela é tão rica de informações (contém, por exemplo, dezenas de imagens médicas reais, como tomografias e radiografias, que podem ser visualizadas com todo realismo na tela do computador), que estamos utilizando para dar aulas para estudantes de Medicina na UNICAMP.

Imaginem o impacto que todas essas novas tecnologias terão sobre a educação das novas gerações. Por enquanto, infelizmente, é a minoria das minorias que tem acesso a esse recurso no Brasil. O governo, os pais e os educadores brasileiros precisam acordar para esse novo alvorecer da Humanidade.


Publicado em: Jornal Correio Popular, 1/4/94, Campinas
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