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O Derretimento dos Pólos

Renato Sabbatini

O que está acontecendo nos pólos da Terra? Os últimos relatos de viajantes e de cientistas é que tanto o Ártico quanto a Antártica estão passando por um período sem precedentes de derretimento dos suas áreas de gelo. No verão deste ano, enormes áreas dos mares ao norte do Canadá estão livres de gelo pela primeira vez na história. Na Groenlândia, a lâmina de gelo que existe há centenas de milhares de anos está perdendo de 2 a 5 metros de espessura por ano. Na Antártica, enormes plataformas de gelo, algumas com 8.000 km2 estão se fragmentando e se espalhando pelo mar. Geleiras das montanhas estão também derretendo com velocidade surpreendente. Animais que dependem do ciclo natural das estações, como os ursos polares, pingüins e peixes marinhos, estão sendo devastados.
 
As organizações de proteção do meio ambiente, como a Greenpeace, a World Wildlife Fund (WWF), e grupos de cientistas e ecoativistas acham que existem evidências irrefutáveis de que isso está sendo causado pelo aquecimento global, e que a atividade humana é, em grande responsável, por esse aumento, através do chamado "efeito estufa" (aumento dos gases na atmosfera que retém o calor emitido pelo sol). Recentemente, mais de 1.500 cientistas, inclusive 80 nobelistas e centenas de organizações científicas assinaram um manifesto a favor dessas idéias, e pedindo um acordo global entre as nações que tenha como meta a diminuição substancial dos níveis de emissão. Tanta gente importante e sabida assim pode estar errada? O problema é que pode estar, sim, como veremos adiante.

De fato desde o início do século, a temperatura média do planeta aumentou em 0,5 ºC, sendo que aproximadamente a metade desse valor desde 1960. A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (E.P.A.) determinou que os 10 anos mais quentes do século ocorreram nos últimos 15 anos, e que 1998 foi o ano mais quente de todos. O nível médio dos oceanos aumentou entre 5 a 12 cm, sendo que 40% desse valor foi devido ao derretimento das geleiras em montanhas. O restante é devido à expansão do volume de água devido ao próprio aumento de temperatura (dilatação). Se todo o gelo dos pólos se derreter (hipótese altamente improvável), o nível médio dos oceanos aumentará em mais de 80 metros, submergindo todas as cidades costeiras do mundo, e engolindo ilhas e zonas costeiras inteiras (o estado da Flórida e a Holanda, por exemplo, praticamente desapareceriam debaixo das águas!). A quantidade de precipitação de chuvas tamb&ea Bengladesh, apenas 0,04 toneladas). Europa e Japão contribuem com 20% adicionais.

As adeptos dessa teoria dizem que se nada for feito para coibir as emissões de CO2 pela atividade humana, a Terra poderá esquentar até 3,5 º C nos próximos anos. Pode parecer pouco, mas seria um aumento catastrófico, principalmente para a modificação de ecossistemas e a para a extinção de centenas de milhares de espécies de vida, inclusive a erradicação de milhões de quilômetros quadrados de florestas no hemisfério norte.

Todas essas afirmações, no entanto, têm sido o objeto de uma enorme polêmica. Muitos cientistas acham que os dados que os ambientalistas brandem com tanta veemência na condenação do progresso material e industrial, são refutados por muitos estudos sérios. Não existe de forma tão clara essa alegada relação entre atividade humana, aumento de gases atmosférico e aquecimento global. Nenhum sequer desses elos foi claramente comprovado até agora, e existem até evidências em sentido contrário. Por exemplo, cerca de 12.500 anos atrás, a temperatura média da terra subiu mais de 20 graus em apenas 50 anos; apenas devido a causas naturais (desconhecidas até hoje, mas suspeita-se que possa ter sido um aumento da atividade solar). Na chamada "Pequena Idade Glacial", que começou no século 17, a temperatura terrestre chegou a ser dois graus menor do que agora, sem que a humanidade tenha se extingüido. Portanto, 0,5 grau de aumento em um século significa apenas uma pequena variação, que tanto poderia ser para cima como para baixo, e que não é necessariamente causada pelo ser humano. Embora o nível de CO2 esteja realmente aumentando na superfície do planeta (e pode ser que seja mesmo o resultado da queima aumentada de combustíveis fósseis, principalmente pelos automóveis), isto não está ocorrendo nas partes superiores da atmosfera, onde ocorre o efeito-estufa. Além disso, o vapor de água que existe nessas regiões é o maior responsável pelo efeito, e não o CO2 ou o gás metano, como se pensava.

Outra falha na argumentação sobre o efeito do CO2: os ambientalistas apresentam apenas o quanto é emitido a mais pela atividade humana. Geralmente não citam o que realmente fica a mais na atmosfera, pois existem muitas fontes naturais de absorção: as florestas e os mares, por exemplo. De fato, existem evidências que as florestas do norte dos EUA absorvem mais CO2 (2 bilhões de toneladas por ano) do que é gerado (1,7 bilhões). Um dos motivos é que os ecossistemas terrestres são precisamente auto-regulados: quando aumenta o CO2 na atmosfera estimula-se o crescimento das árvores e outras plantas, que por sua vez passam a remover mais CO2.

O ambiente terrestre e a vida podem ser muito mais estáveis e resistentes do que imaginamos. Ao mesmo tempo, em periodos relativamente curtos, podemos passar por grandes modificações. É cedo, ainda, para apontar o dedo para os culpados. Mas, de qualquer forma, tentar diminuir a poluição é sempre uma boa meta.

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Correio PopularPublicado em: Jornal Correio Popular, Campinas,  8/9/2000.

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