Informática Médica

O Futuro do Telefone Celular

Renato M.E. Sabbatini


Revista Check-Up
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A evolução dos telefones celulares pode ser descrita através de suas sucessivas “gerações” tecnológicas. Cada nova geração se caracteriza por usar recursos cada vez mais poderosos e mais rápidos, tornando-nos cada vez mais dependentes desses pequenos e utilíssimos aparelhos. A riqueza de opções, no entanto, espanta e confunde: CDMA, TDMA,  GSM... O que significam? Qual é o melhor? Qual tem o melhor futuro?

O resultado é que, para o usuário que quer apenas comprar um novo celular, essa dança de siglas e tecnologias misteriosas representa um grande quebra-cabeças. A briga entre os diversos padrões está até tomando as campanhas na mídia de massa.

Neste artigo vamos comparar as tecnologias mais usadas no complexo mundo dos celulares, e quais são as tendências, vantagens e desvantagens de cada uma. Como veremos, os celulares são tão importantes para os médicos e para a medicina, em seu exercício profissional e vida cotidiana, que eles não podem ser ignorados.

As gerações

A primeira geração de telefonia celular (chamada abreviadamente de 1G), com tecnologia analógica, foi a AMPS (Advanced Mobile Phone Systems), e entrou no Brasil a partir de 1991.

A segunda geração (2G), que é a utilizada atualmente na maior parte do mundo, é totalmente digital. Caracteriza-se por ter três padrões tecnológicos mutuamente incompatíveis:  o CDMA (Code Division Multiple Access), o TDMA (Time Division Multiple Access) e o GSM (Global Standard Mobile).

Finalmente, a terceira geração (3G), ainda em desenvolvimento, será a mais avançada, e está começando a entrar em alguns. Será seguramente a tecnologia de telefonia celular e de acesso à Internet sem fio (“wireless”) predominante dentro de três a cinco anos. Ela é baseada em uma evolução do CDMA, chamado W-CDMA (de wide, ou banda larga).

Além destas, surgiu recentemente no Brasil um serviço de terceira geração, que pode ser acessado através de telefones de segunda geração, que é chamado de 2,5G. Por exemplo, em abril de 2003, este serviço foi introduzido em São Paulo pela Telesp Celular (atual Vivo), usando o padrão internacional CDMA-1x.

Qual é a melhor?

Claro que todo mundo gostaria de comprar a tecnologia a mais moderna possível, para não ter que trocar logo de celular, mas existem muitos fatores em jogo além do preço e da estética do aparelhinho. Entre eles, um dos mais importantes é a extensão de cobertura nacional e internacional, ou seja, a possibilidade de usar o mesmo telefone em cidades diferentes da que você fez a assinatura (característica técnica denominada de “roaming” em inglês, ou visitante), que é importante para quem viaja freqüentemente.

Nesse ponto o GSM é imbatível, em termos internacionais. No ar desde 1991, é usado atualmente por mais de 400 operadoras em 190 países, servindo cerca de 750 milhões de usuários, e representando 80% de todos os celulares em uso no mundo. O GSM é o padrão 2G obrigatório da União Européia, por exemplo). No Brasil, no entanto, está presente há pouco tempo, com apenas duas operadoras (TIM e Oi), que oferecem uma cobertura de “roaming” ainda limitada (mas que certamente vai crescer). Neste ponto a tecnologia do GSM tem uma vantagem importante: o usuário pode carregar um chip removível, chamado SIM-Card, que tem os dados pessoais do usuário, inclusive número do celular e agenda de telefones, e que pode ser inserido em qualquer aparelho.

Em segundo lugar em termos de cobertura mundial, temos o padrão CDMA, desenvolvido pelos americanos. Sua cobertura em nível nacional é dominante, estando presente em praticamente todas as cidades de um certo porte.

Velocidade é tudo

Outro fator importante é a gama de serviços adicionais que o sistema a ser escolhido oferece, e a que velocidade. Na geração 2G, já são bastante conhecidos o acesso à Internet pelo sistema WAP (Wireless Access Platform), e o uso de mensagens de texto, pelo sistema SMS (Simple Message System). Deste ponto de vista, GSM e CDMA são bastante comparáveis.

Finalmente, um fator importante que queremos discutir é a evolução futura dos vários sistemas. Ao que parece, o TDMA não tem futuro, é um sistema em extinção. Tanto o GSM quanto o CDMA tem sua evolução tecnológica garantida, e seus usuários não correm risco de obsolescência técnica. Nos próximos três anos, ambos deverão oferecer velocidades de transmissão digital superiores a 384 Kbps (milhares de bits por segundo), podendo chegar a 2,4 Mbps (milhões de bits por segundo). Como o futuro da telefonia celular são os sistemas de terceira geração (3G), que usarão um novo padrão denominado UTMS (Universal Mobile Telephone System – UMTS), baseado em W-CDMA (CDMA de banda larga), pode parecer que quem já  usa CDMA terá menos problemas e menos custos para evoluir (além, é claro, de poder usar os serviços 2,5G).

O que poderá ser feito com um celular 3G?

Muita coisa: maior interatividade, navegação rápida na Internet, descarregamento de arquivos grandes, como músicas em MPEG3 (um padrão de música digital de alta qualidade), fotos e vídeos, multimídia interativa, correio e jogos eletrônicos. Imagine que seu celular vai ser como um PC de última geração, atual, com uma conexão em banda larga à Internet. A diferença vai ser a portabilidade e o tamanho do terminal. Nosso humilde celular, que hoje é usado por 90% dos proprietários apenas para telefonia de voz, será também um terminal bancário, um cartão de crédito, um cartão de identidade para serviços de saúde, educação e segurança, um aparelho portátil de TV, rádio e música, etc. Será um computador de mão (“palmtop”), com todas suas funcionalidades, e capaz de armazenar software e banco de dados, executar programas complexos, funcionar como sua agenda de compromissos, de telefones, de coisas para fazer, bloco de anotações, relógio, despertador, videogame, e muitas coisas mais. Muitos dos telefones celulares de nova geração já vem com câmara fotográfica digital ou vídeo digital, por exemplo, e no futuro existirão centenas de acessórios para usarmos o celular com praticamente qualquer tipo de periférico, como impressoras.

Tudo isso já é possível em algumas cidades, como São Paulo e Campinas, através do serviço CDMA-1x RTT, oferecido pela Vivo, e que possibilita velocidades de transmissão de dados de até 144 Kbps. Uma tecnologia mais avançada do que essa, a CDMA-1x EVDO, atinge 2,4 Mbps, mas está disponível de forma muito limitada no Brasil, e apenas para telefones fixos (serviço Giro, da operadora Vésper). Um serviço equivalente nos operadores GSM atinge até 170 Kbps, e é denominado de GPRS (General Radio Packet Service), usando nas bandas C, D e E.

O interessante é que você não precisa ter um celular para usar os serviços 2,5G. Comprando uma placa de rede, por cerca de 900 reais, é possível ligar o seu computador, laptop ou palmtop diretamente à rede de acesso sem fio, para usar a Internet. Até mesmo em movimento, dentro de um carro, por exemplo. Brevemente, os usuários que viajam por algumas estradas paulistas poderão usar seus computadores ligados à Internet por toda a viagem.

As Aplicações Médicas

O que pouca gente está pensando, ainda, é o enorme campo de aplicações médicas dos telefones celulares de terceira geração. Com eles, teremos telemedicina de boa qualidade, a um preço muito reduzido, de qualquer lugar, a qualquer momento. Fotos e radiografias do paciente, tomados com câmaras de alta resolução ou scanners especializados, poderão ser enviados em poucos minutos de qualquer lugar do mundo coberto pelo GSM, a um centro de interpretação, análise e orientação. Imagine, por exemplo, que cada unidade móvel de resgate ou ambulância, dispondo de um aparelho desse tipo, pode obter a orientação de um médico ou laudos de exames feitos na hora, no local do acidente. Ou que pessoas comuns, ao se sentirem mal em uma viagem, por exemplo, poderão entrar em contato com seu médico e transmitir dados, como ECG, glicemia, e outros, em um celular acoplado a um monitor de sinais vitais, embutido dentro de um “celular médico”, que determinados pacientes de risco poderão alugar ou comprar. Com a extensão da cobertura do CDMA-1x ou GSRP a zonas rurais, as equipes de saúde da família poderão visita-las, dispondo de excelente retaguarda especializada, através do acesso à Internet, e de videoconferências via celular.

Conclusões

Enfim, depois de toda essa informação, qual linha adotar? Evidentemente, qualquer conselho que eu poderia dar aqui, teria uma vida muito curta, pois esses padrões e serviços, assim como preços, vantagens e coberturas, estão em constante mudança, sempre para melhor (pelo menos do ponto de vista do usuário). No atual momento, o CDMA parece ser a melhor escolha, mais barata, com maior cobertura, e com evolução tecnológica garantida. É o sistema mais usado no Brasil, e em muitos países do mundo (alguns só tem CDMA, como o Japão e a Coréia, maiores usuários do mundo depois dos EUA). No entanto, embora nosso país tenha entrado muito mais tarde no GSM,  ele ainda pode ser a vir uma opção muito forte no futuro.

O celular acabará substituindo o computador portátil? Não creio, pois as limitações de tamanho de tela e de teclado são muito grandes, para aplicações que envolvam um uso mais intenso e dedicado. Para milhões, talvez bilhões de pessoas, no entanto, o celular 3G será o único computador a que elas terão acesso, e o potencial pode ser realmente revolucionário. Os atuais 300 milhões de usuários da Internet podem decuplicar em poucos anos, graças a esses usuários.

 

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Renato M.E. Sabbatini é doutor em ciências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, e fundador e diretor do Núcleo de Informática Biomédica da UNICAMP, em Campinas, SP. É também editor científico das revistas Informática Médica e Intermedic.
Email: renato@sabbatini.com

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