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Poluição, inverno e saúde

Renato M.E. Sabbatini

A aproximação do inverno em São Paulo causa apreensão e temor, devido ao aumento da poluição atmosférica causada pela inversão térmica (um aumento da temperatura do ar com a altitude, que é o contrário do que se observa normalmente). Esse fenômeno estabiliza a atmosfera, impedindo a circulação de ar e a mistura de gases atmosféricos, o que faz com que os poluentes aéreos se acumulem rapidamente, formando um "cobertor" imenso, sujo e malcheiroso sobre a cidade. Estes poluentes, tais como hidrocarbonetos, oxidantes, óxidos sulfúricos e nitrosos, monóxido de carbono e partículas em suspensão, são, em grande parte, gerados pela exaustão dos motores de veículos, e por indústrias poluentes.

Tudo isso causa graves problemas de saúde pública, aumentando a incidência de doenças respiratórias (que já são mais altas devido a temperatura mais baixa do ar) e a mortalidade, principalmente de crianças e velhos. Diversos incidentes desastrosos de inversão térmica ocorreram no passado, comprovando inegavelmente esta relação, tais como o do Vale do Mosa, na Bélgica, em 1930; de Donora, Pensilvânia, em 1948; e um dos piores que se teve notícia, em Londres, em dezembro de 1952. Este último, que durou quatro dias, causou a morte de 3 mil a 4 mil pessoas, em conseqüência da poluição. Morreu também um número incontável de animais, inclusive gado de raça. Entre as doenças mortais estavam a bronquite e a asma alérgica, as infeções respiratórias, o agravamento de enfisemas, etc.

A culpa dos veículos automotores é gritante. A partir de 1952, detectou-se, pela primeira vez na cidade de Los Angeles, um novo tipo de poluição, chamado smog (smoke + fog, ou seja, fumaça mais neblina), causado por uma reação fotoquímica entre os poluentes (deflagrada pela luz do sol sobre ar estagnado). O resultado, que ocorre depois de uma série complexa de reações químicas a partir do óxido de nitrogênio formado pelo escapamento de milhões de automóveis no trânsito matutino, é o ozônio e o nitrito peroxiacetílico. Ambos são poderosos irritantes das mucosas dos olhos, da garganta e do trato respiratório, e também causam tosse, bronquite, congestão e alergias. O ozônio é um dos mais poderosos irritantes conhecidos, reduzindo à metade a capacidade respiratória de adultos normais, com uma concentração de 0.12 partes por milhão ! (o curioso é que o que falta no buraco de ozônio, sobra na atmosfera das grandes cidades, como Cidade do México, Bangcoc e São Paulo. Um gaiato já propôs "exportar' o ozônio em excesso para cobrir o buraco...)

O mais impressionante, na minha opinião, é que, apesar da relação entre smog e doença ser amplamente documentada e conhecida, a prefeitura de São Paulo pouco faz para minorar esse problema. Depois do choque provocado pela trag&eacut motores, etc.; podem reduzir consideravelmente esse problema, minorando o sofrimento de milhares de pessoas, que todo inverno sentem vontade de mudar de São Paulo, antes que a morte venha cedo demais....


Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 23/5/96
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