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A era dos portais

 

Renato Sabbatini

Vejam só como mudam as concepções de "design" de páginas na WWW em função do progresso tecnológico e da atitude dos usuários. Quando a Web começou, as velocidades de acesso dos modems mais rápidos estavam na casa dos 9.600 bits/seg. Então, o mandamento básico do webdesigner era fazer páginas pequenas, com pouca informação, e um certo número de links para páginas subseqüentes. O site era estruturado na forma de uma árvore dividida em muitos ramos e níveis, e o coitado do usuário na maioria das vezes tinha que dar muitos "cliques" no mouse até chegar à informação desejada. Os gurus do design aconselhavam páginas enxutas, minimalistas, até, com poucas imagens, para o usuário não desistir antes de chegar onde o dono do site queria. Chegou até a ser formada uma associação de designers que propagava conhecimentos de como reduzir o tamanho de uma página, a Bandwith Conservation Society (Sociedade de Conservação da Banda de Passagem, que é o nome esquisito que os técnicos dão à capacidade de transmissão de uma conexão). O hipertexto era anunciado como o passe de mágica para estruturar documentos complexos em pequenos pedaços, fáceis e rápidos de carregar. Dividir para conquistar, era o mote da época.

Não demorou muito para se descobrir que o usuário não gostava dessa, por diversos motivos: demora muito para navegar, você pode se perder no meio de tantas telas ("desorientação cognitiva"), e não dá para imprimir tudo junto, quando se quer. Além disso, a rápida evolução dos modems e dos computadores multimídia, e o aumento da velocidade das conexões da Internet logo tornaram irrelevante a preocupação da Bandwith Conservation Society. Não que a velocidade de carregamento de um site não seja importante: recentemente foi feita uma "competição" entre os sites mais importantes, e o Yahoo! ganhou disparado, com pouco mais de 4 segundos para a página total. Quando um site demora mais do que 15 segundos para carregar, o número de usuários que desiste é bastante grande.

Assim, surgiu a idéia do portal, que pode ser o nome dado a uma filosofia de design ou a um tipo de serviço através da Web, ou as duas coisas. Um exemplo de portal é o Cosmo On-Line, outros ainda são o Yahoo!, StarMedia e o Universo On-Line, um dos mais congestionados de informação. Nele, coloca-se o máximo de informação possível sobre o site na página inicial, incluindo a grande maioria dos serviços, documentos, vias de acesso, etc. O resultado é uma maçaroca difícil de gerenciar e que assalta os sentidos, mas que é extremamente efetiva para fisgar o usuário e direcioná-lo para aquilo que ele quer (ou nem sabe que quer). É uma ferramenta muito efetiva para gerar tráfego consistente para as várias partes do site, ao contrário da filosofia hierárquica que predominava antes. Tem gente que odeia portal, tem gente que adora. Acho até que tem que ver com o perfil cognitivo de cada um.

O problema dos portais é como atingir um balanço razoável entre complexidade, tamanho da página, velocidade de carregamento, atratividade, facilidade de uso.

Na semana passada a Microsoft e uma empresa chamada InfoImage (www.infoimage.com) fecharam uma aliança estratégica importante, com o objetivo de integrar a tecnologia de "Digital Dashboard" (algo como "painel digital") da Microsoft ao mundo dos portais corporativos. Um portal corporativo é uma página na intranet de uma empresa e organização que dá acesso e integra todas as informações nela armazenadas, provenientes de múltiplas fontes, como documentos, arquivos, projetos, gráficos, bases de dados, etc., através de um browser, como o Internet Explorer. A Microsoft incorporou o "Digital Dashboard" em várias de suas linhas de produtos, inclusive o MS Office 2000, Windows 2000, Commerce Server e Exchange 2000. Através do DD, o usuário tem um portal único de acesso a sua agenda, grupos de discussão, colaboradores, ferramentas de comunicação (chat, email), listas de planilhas e gráficos, documentos, apresentações de slides, bases de dados, etc., bem como à Internet. Além de ter algumas ferramentas de uso comum, o DD pode ser parcialmente personalizado para ajustar-se às preferências de cada um. A InfoImage tem um software chamado freedom, que permite implementar um portal corporativo e integrá-lo aos aplicativos que rodam em microcomputadores ligados à rede intranet da empresa, usando uma interface baseada na Web. O software compila dados de todos os tipos, independentemente de sua localização na rede, e os transforma em informação integrada, através da personalização. Os dados do portal podem aparecer de forma diferente conforme o tipo de usuário (executivos, empregados, clientes, fornecedores, etc.).

No mundo da Internet, atualmente o portal é sinônimo de um mega-site, formador de uma comunidade virtual através de múltiplos recursos. Geralmente seu potencial de rendimento econômico está na venda de publicidade, de acesso à informação e de comércio eletrônico. Para os usuários a filosofia do portal pode ser atrativa, no sentido de conter e organizar todo o caótico mundo da informação on-line. Daí estarem começando a surgir os primeiros portais em segmentos especializados de interesse, como para o setor financeiro, o setor de saúde, etc. Os portais famosos existentes hoje surgiram a partir de mecanismos de busca e catálogos on-line (como InfoSeek, Altavista, Yahoo!, Lycos, Hotbot), como comunidades virtuais gratuitas (GeoCities, Tripod, FortuneCity), ou já como portais mesmo (StarMedia, OSite, NetCenter, MS Internet Star). Alguns portais, principalmente os que têm mecanismos de busca importantes, recebem dezenas de milhões de visitantes por dia. Imaginem qual é o potencial de venda, se um anúncio simples, do tipo "compre um relógio Timex por 11,97 dólares" aparece no portal…

Os portais são importantes para as novas companhias baseadas na Internet, pois eles têm como objetivo atrair o maior número possível do universo de usuários, ao mesmo tempo fisgando-o com a qualidade e diversidade de informação, para que eles voltem sempre. Assim, o retorno publicitário estará garantido. Um pequeno exemplo dessa estratégia de "fidelização" do usuário: 30% de todos os internautas brasileiros visitam o portal UOL pelo menos uma vez por semana!
 

Para Saber Mais

 

Portais na Internet



Renato M.E. Sabbatini é professor e diretor do Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas, colunista de ciência do Correio Popular, e colunista de informática do Caderno Cosmo. Email: sabbatin@nib.unicamp.br

Veja também: Índice de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no Correio Popular.



Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 22/10/99.
Jornal: Email: cpopular@cpopular.com.br
WWW: http://www.cosmo.com.br


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