Indice de Artigos

O ciberdinheiro vem aí

Renato Sabbatini

"Está desaparecendo a diferença entre dinheiro e software"

Essa frase foi dita recentemente por um grande banqueiro norte-americano, ao comentar a evolução tecnológica radical pela qual está passando a indústria financeira em todo o mundo. A tal ponto, que outro banqueiro declarou que tem mais medo da Microsoft do que dos concorrentes, e que acha que o próximo presidente de seu banco poderá ser um "nerd" especializado em software !

Mondex CyberCashOs comentários procedem. O crescimento do comércio eletrônico e a globalização da economia deflagraram um processo rapidissimo de transformação na indústria financeira. A possibilidade de transferir valores monetários na forma de bits através de uma rede de computadores mudou absolutamente tudo. Nos EUA e em muitos países da Europa, você pode literalmente andar sem qualquer papel-moeda no bolso, que não vai fazer nenhuma diferença. O "smart card" (cartão inteligente), que existe há mais de 10 anos em uso na Europa, e que tomou de roldão os EUA recentemente (e, mais timidamente, o Brasil, através do VisaCash), permite a manutenção de saldos, e a sua transferência por meios eletrônicos, sem que "a cor do dinheiro" jamais precise ser vista.

Por exemplo, a MasterCard, a segunda maior operadora de cartões de crédito do mundo, anunciou seu projeto de dinheiro do futuro, codinome Mondex (http://www.mondexusa.com). É um cartão de crédito que contém um microchip de alta capacidade. Além de ter as funções básicas de todo "smart card", ou seja, manter saldos financeiros, histórico de movimentações, possibilitar acesso à caixas eletrônicos e debitar compras, ele tem espaço para manter uma "chave eletrônica" que a pessoa poderá usar para tudo, desde ter acesso à Internet e fazer compras pela rede, até abrir a porta de sua casa ou bater o cartão de ponto eletrônico no trabalho. Terá espaço ainda para um histórico médico (que poderá ser lido quando for fazer uma consulta, viagem ou em caso de emergência médica).

A idéia da MasterCard, da Visa e de outros grandes conglomerados que estão apostando no ciberdinheiro é que em um futuro muito próximo todos os computadores terão um leitor simples de cartões inteligentes, que será tão comum como o mouse. Eventualmente, todas as lojas, pontos de venda e de serviços, e até táxis, terão leitores desse tipo, formando uma imensa rede de pagamentos por dinheiro eletrônico, cobrindo todo o planeta.

Estão surgindo muitos bancos totalmente eletrônicos, também, como o First Virtual Bank, os sistemas DigiCash, E-Cash, CyberCash, etc., para pagamentos pela Internet. A tecnologia que eles usam se denomina "electronic wallet" (carteira de dinheiro eletrônica). Você deposita um tanto de dinheiro na conta virtual, e cada vez que faz uma transação pela Internet, mesmo que for muito pequena (alguns centavos, microtransações, como são chamadas), ela é debitada automaticamente em sua conta. Para evitar fraudes, no entanto, é preciso certificar o usuário (ter 100 % de certeza se é você mesmo que está emitindo a ordem de pagamento). A melhor e mais segura tecnologia para fazer isso é usar um cartão pessoal e intransferível, que contenha todos os dados de certificação, criptografados, com acesso por senha. Assim, você vai poder fazer uma compra na Internet a partir de qualquer terminal que estiver usando, não apenas o seu (que é como funcionam os sistemas atuais de verificação, baseados no envio de um arquivo gravado em seu computador).

Para usar o sistema de "carteira eletrônica", os comerciantes que vendem produtos e serviços pela rede deverão, como acontece atualmente com os cartões de crédito comuns, fazer um convênio com o banco eletrônico. Nesse ponto, então, é fácil ver qual é a grande vantagem da Visa, MasterCard, etc.: eles já têm essa enorme rede de mercadores credenciados a debitar compras e receber via cartão de crédito de seus consumidores. Basta implementarem o novo sistema de ciberdinheiro, o que deve acontecer no máximo em dois anos.

A conseqüência principal será sentida pelos próprios bancos, que terão que se reorganizar dramaticamente. O desemprego dos bancários é um fato: nos últimos 10 anos, no Brasil, foram extintos mais de 400 mil postos de trabalho nos bancos, graças à automação de auto-serviços, e, agora, através do Internet Banking. Vai chegar um dia em que não precisaremos mais "ir ao banco" na hora do almoço, uma rotina que perturba a maioria dos brasileiros que têm que pagar uma conta, sacar dinheiro, etc. Com uma verificação digital 100 % confiável, eu mesmo poderei recarregar o meu cartão VisaCash ou Mondex, inserindo-o no leitor de cartões do meu micro e acessando o site do banco na Internet.

Para Saber Mais:


Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 26/5/98.

Autor: Email: sabbatin@nib.unicamp.br
WWW: http://home.nib.unicamp.br/~sabbatin
Jornal: Email: cpopular@cpopular.com.br
WWW: http://www.cosmo.com.br


Copyright © 1998 Correio Popular, Campinas, Brazil