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Agricultura e Informática

Renato Sabbatini

A informática chegou aos campos para ficar. Um dos últimos bastiões de resistência contra o uso de alta tecnologia digital, as fazendas estão começando a adotar os computadores para fazer muitas coisas, desde o controle do uso racional do solo até a contabilização da produção e controle do armazenamento e transporte. Através dos discos de satélite e da telefonia celular rural, aos poucos a Internet também está começando a penetrar no agribusiness. Nos EUA, uma parcela considerável dos produtores rurais usa a Internet para se comunicar através do email, bem como para ter acesso aos mapas metereológicos atualizados a cada hora, contendo dados de radar, satélite, estações metereológicas, etc., sobre o regime de ventos e de chuvas, previsão de tempo, e assim por diante.

O Brasil é um dos países que tem grande potencial para o desenvolvimento da Informática aplicada à Agricultura. Aqui em Campinas, que é uma cidade com uma tradição de mais de um século de pesquisa agrícola, graças ao Instituto Agronômico (http://www.iac.br), temos vários centros dedicados ao tema. O maior e o mais importante é o Centro Nacional de Pesquisa Tecnológica em Informática para a Agricultura da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que fica dentro do campus da UNICAMP, em magníficas instalações (http://www.cnptia.embrapa.br). O CNPTIA nasceu dentro de outra instituição de renome em nossa área, o CTI (Centro para Tecnologia em Informática: http://www.cti.br), a partir de um projeto de "fábrica de software", iniciado na década passada com apoio da EMBRAPA. Entre os projetos desenvolvidos estão sistemas para controle de rebanho leiteiro e de corte, de gerenciamento de fazendas, processamento de imagens para agropecuária, modelagem e simulação, etc. Dois projetos muito interessante são a Cooperativa de Bancos de Dados, e um sistema de integração de bancos de dados descentralizados do sistema EMBRAPA, que abrange informações extremamente variadas, de A (algodão) a Z (zoneamento agroclimático), e que, em conjunto, são de extrema importância para a agricultura científica brasileira. Outro centro importante da EMBRAPA em Campinas que também trabalha bastante com informática é o Núcleo de Monitoramento Ambiental e de Recursos Naturais por Satélite (http://www.nma.embrapa.br/), que utiliza uma tecnologia modernissima. O NMA ficou famoso por seu projeto de monitoração das queimadas no Brasil, juntamente com o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e a Ecoforça. Na UNICAMP existem na área de Informática em Agricultura, grupos de pesquisa no CEPAGRI (Centro de Ensino e Pesquisas em Agricultura: http://orion.cpa.unicamp.br/), que trabalham em geoprocessamento, dados e imagens meteorológicos, planejamento agrícola, etc.

A aplicação mais espetacular da informática na agricultura chama-se agricultura de precisão. Isso funciona assim: o fazendeiro faz um mapa detalhado de seus campos de cultivo, fazendo amostragens e análise do solo, e utilizando satélites de posicionamento global (GPS - Global Positioning System), que permitem calcular as coordenadas geográficas, com precisão de poucos metros, para cada local de amostra de solo. O mapa é feito com um software de geoprocessamento (GIS - Geographical Information System). Assim, ele fica sabendo onde precisa mais fertilizante, corrigir a acidez do solo, etc. Em seguida, máquinas agrícolas especialmente projetadas, utilizam uma tecnologia de progressão variável para jogar os agentes corretivos no solo, em exata proporção à sua necessidade determinada pelo mapa. Assim, usa-se muito menos substâncias, de forma menos tóxica, a um preço menor, e com atuação otimizada para cada ponto do campo. Posteriormente, o fazendeiro pode mapear quanto cada ponto do mapa rendeu (em toneladas por hectare, por exemplo), do produto agrícola, e pode modificar as suas técnicas de manejo da cultura, em função desses resultados (visite: http://ag.arizona.edu/precisionag/)

Os resultados econômicos da agricultura de precisão são sensacionais, e se aplicam bastante para culturas como soja, sorgo, milho, etc. A EMBRAPA já está estudando a introdução dessas técnicas no Brasil.


Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 13/01/98

Autor: Email: sabbatin@nib.unicamp.br
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