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Defensores da moral

Renato Sabbatini

Pais de crianças e adolescentes estão cada vez mais preocupados com a onda de pornografia que assola a Internet e os CD-ROMs. São milhares deles, com os textos e imagens mais grotescos, bizarros e ofensivos que se pode imaginar. Não são apenas sites com o chamado "sexo normal", do padrão heteressexual adulto. Existem sites clandestinos com pedofilia (sexo com crianças), zoofilia (sexo com animais) e outras aberrações, livremente expostas e discutidas. Sob o disfarce de "amostras gratuitas" (normalmente todos esses produtos, na Internet ou em CD-ROM, têm um custo para serem usados), centenas de milhares de amostras estão disponíveis para quem quiser ver, principalmente para quem souber usar um mecanismo de busca do tipo Altavista, que indexa todas as páginas da WWW, palavra por palavra. No HotBot (www.hotbot.com), por exemplo, , usando-se a frase de busca "porno OR pornography OR erotic" rendeu o número assombroso de 117 mil documentos !. Embora a esmagadora maioria dos sites e dos CD-ROMs avise que o material é proibido para menores, que a pessoa deve declarar antes que é maior de idade para poder ter acesso, que ela deve evitar entrar se fica ofendido por nudez ou pornografia, etc., isso é uma hipocrisia, pois não conheco nenhum adolescente que tenha respondido "não". Funciona no sentido contrário, até.

Bem que a indústria pornográfica, que está faturando milhões com a nova mídia eletrônica, tenta fazer alguma coisa para acalmar o clamor contra sua atividade. Existem vários sites na Internet que oferecem "validação de passes de adultos". São vários, tais como Validate, Adultpass, Adult Sights, AVS, Clublink, X-Pass, Porno Pass, Adult Check, 18 Plus, I Shield, etc. Você entra uma série de dados a seu respeito e um algoritmo "checa" se você é realmente um adulto como está declarando, ou não. No entanto, fazem de tudo para, no sentido contrário, serem achados o mais rapidamente possível. Um truque muito comum é usarem uma página na WWW com dezenas de repetições da mesma palavra pornográfica. Isso engana os mecanismos indexadores costumam dar um "índice de relevância" e colocar em primeiro lugar na lista de achados aqueles sites que têm o índice mais alto (maior incidência da palavra procurada).

Mas a tecnologia já correu em socorro de quem, por algum motivo, quiser censurar o conteúdo da Internet. Programas como WebSense, Net Shepherd, WebTrack, Net Nanny, CyberPatrol, Surf Watch, CyberSitter, Safe Surf e outros, permitem que se monte uma lista de endereços proibidos, e que serão automaticamente bloquados se o menor tentar entrar no mesmo através da Internet. Essas listas são protegidas por senhas, e podem ser atualizadas periodicamente, por um serviço de assinatura.

A tecnologia mais avançada que está surgindo são programas "inteligentes", que analizam textos e imagens, para verificar se têm conteúdo pornográfico e precisam ser bloqueadas. Recentemente, a companhia inglesa Microtrope anunciou a primeira versão do ImageSensor, que trabalha com imagens pornográficas coloridas apenas. Ele faz uma análise matemática da cor da imagem, e com base no excesso de "carne à mostra" (creio eu), decide, com 95 % de certeza, se ela é "hardcore" ou não. O problema é que não funciona com imagens em preto e branco, e pode bloquear imagens que não são pornográficas (por exemplo, uma modelo usando um biquini cor de rosa e vermelho). Segundo um dos desenvolvedores do programa "provavelmente" o ImageSensor não irá bloquear uma imagem do "David" de Michelangelo, mas ele não tem certeza... Os programas de texto são um pouco mais inteligentes, mas mesmo assim ainda deixam a desejar.

Não é muito difícil distinguir o que é pornografia "hardcore" de imagens meramente sensuais. O problema é que existem muitas gradações entre esses extremos, que os próprios pais podem julgar de forma diferente. Nos EUA, por exemplo, o programa da Xuxa foi considerado "indecente" demais para crianças, enquanto que no Brasil ninguém acha nada demais que ela mostre as belas pernas que Deus lhe deu, muito pelo contrário.

Essa polêmica ainda vai longe... 


 

Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 31/03/97.

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