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250 milhões de canais

Renato Sabbatini

Esta semana esteve em São Paulo o professor e pesquisador Andrew Lippman, do famoso MediaLab, do MIT (Massachussetts Institute of Technology), para dar uma palestra em um congresso (Inet'2000). Sua apresentação foi interessantíssima e chamou a atenção de todos pela afirmativa que em 2005 existirão 250 milhões de canais de TV através da Internet.

Como seria possível uma coisa dessas? Segundo Lippman, eles surgirão na forma de "canais personalizados" de vídeo de altissima compressão (o grupo do pesquisador está desenvolvendo um software que permitirá colocar a programação de um canal inteiro de TV durante um ano, em um único DVD, ou disco digital, que atualmente armazena apenas duas horas de programação). Esses canais serão transmitidos de uma forma totalmente diferente da atual, que é baseada em estúdios, equipamentos caros e muitos técnicos especializados. Com a Internet de banda larga, ou Internet 2 (velocidades acima de 155 megabits por segundo), o que hoje é a Web, baseada largamente em texto e imagens estáticas, se transformará em áudio e vídeo em tempo real ou sob demanda (ou seja, armazenado e acessado quando se tiver vontade). Qualquer pessoa com "uma câmara na mão e uma idéia na cabeça" (como se dizia na época que surgiu o nouvelle-vague, o cinema experimental francês) poderá gerar imagens e mandá-las ao ar. A esmagadora maioria desses canais será constituida de programas pessoais ou familiares, apenas para você ou seus amigos assistirem (por exemplo, uma transmissão a partir de sua casa, para você ver quando estiver viajando), mas um número imenso será constituido de canais com interesses específicos, mais ou menos como acontece com os sites e páginas na Web, hoje.

O argumento de Lippman é que é muito mais fácil falar e captar imagens do que escrever e formatar páginas em HTML, a linguagem predominante da Web, atualmente. Ele faz suas predições se baseando no fenômeno recente do Napster e Nutella, programas criados por jovens para pirataria de arquivos de som em MPEG3 na Internet, e que estão abalando a indústria fonográfica pela facilidade que implementam a cópia não autorizada de CDs. Esta indústria deverá passar por uma reconstrução extensa em função de programas desse tipo, e Lippman acha que ela está perdendo tempo e dinheiro ao tentar combater a tendência: ela é irreversível e irrepressível. Acha, no entanto, que os CDs não morrerão, pois as pessoas gostam de ouvir novamente uma música da qual gostaram. Isso acontece muito mais raramente, no entanto, com vídeos: a maioria das pessoas tolera assistir apenas uma ou duas vezes um mesmo vídeo, depois disso ele se torna enfadonho. Está na própria natureza da mídia. Então, quanto maior a diversidade, melhor.

A tecnologia, sem dúvida, vai facilitar esse fenômeno. Temos que ver ainda se ele realmente acontecerá. Pelo menos para a educação a distância, será um "boom".
 

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Renato M.E. Sabbatini é professor e diretor associado do Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas, colunista de ciência do Correio Popular, e colunista de informática do Caderno Cosmo. Email: sabbatin@nib.unicamp.br

Veja também: Índice de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no Correio Popular.



Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 7/7/2000 .
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