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Procurando um Médico… na Internet

 

Renato Sabbatini


Para a maioria dos pacientes ocorre com uma certa freqüência um grande problema: como localizar um bom médico. Os livrinhos de endereços que os planos de saúde oferecem são, em geral, a única saída, mas eles costumam ser deficientes, pois agrupam os médicos, clínicas, hospitais e laboratórios por cidade e por especialidade, e pouca coisa mais. Sem elementos adicionais de informação, e sem conhecer os médicos por nome ou por fama, fica difícil escolher criteriosamente.

Não mais. Com o auxílio da alta tecnologia dos computadores e da rede Internet, está ficando cada vez mais fácil selecionar um médico em qualquer cidade. São "sites" que oferecem bases de dados contendo informação sobre milhares de médicos, hospitais, planos de saúde, etc., e que podem ser pesquisados por qualquer combinação de critérios. Além da informação mais básica, ou seja, o nome do médico, sua especialidade, cidade e estado, endereço e telefone, muitos "sites" sofisticam, oferecendo ao usuário outras informações que o permitirão selecionar melhor o tipo e qualidade do médico que desejam. Incluem, então, o ano de formatura, se é especialista certificado, sexo, títulos acadêmicos ou outros. O usuário também pode escolher o médico de acordo com a distância máxima entre sua casa e consultório, quais convênios com que trabalha, e outras informações adicionais. Após ter entrado todos os parâmetros de busca, o "site" responde com uma lista de médicos. Clicando-se sobre o nome de um deles, o paciente pode ver um mini-currículo profissional, a fotografia do médico e até um mapa que mostra a localização exata de sua clínica, horários de atendimento, hospitais aos quais é afiliado, e muito mais.

Nos Estados Unidos, diversas empresas e "sites" especializados já oferecem extensas bases de dados e serviços de localização de médicos e outros recursos da rede de saúde. Entre eles estão o DocFinderPlus, o MedscapeConsumer e o Yahoo! Health (cobre 145 áreas metropolitanas dos EUA, com endereços de mais de 250 mil médicos), o DrKoop, HealthStreet e HealthGrades. Esta última tem o maior catálogo on-line gratuito, com endereços completos de 600.000 médicos, 60.000 quiropráticos, 5.000 hospitais, 10.000 clínicas de mamografia, 300 clínicas de fertilidade, 17.000 asilos de idosos, 21.000 casas de repouso e 400 planos de saúde. Brevemente pretende oferecer catálogos de dentistas, centros cirúrgicos e centros de atenção domiciliar.

No Brasil já existem vários catálogos deste tipo, também, embora quase todos tenham apenas abrangência local. Um dos mais conhecidos é o WebSaúde. As entidades que detém as bases de dados oficiais, como a Associação Médica Brasileira, o Conselho Federal de Medicina, a Associação Brasileira de Hospitais, a Associação Brasileira de Medicina de Grupo, etc., não as disponibilizam na Internet, provavelmente por medo de que sejam usadas ilegalmente para malas diretas.

Uma das conseqüências mais fascinantes dessa nova tecnologia é a facilidade de implementar algum tipo de avaliação de qualidade, para que o paciente que procura esses recursos possa avaliar melhor antes de decidir.

No serviço "Find a Physician" do WebMD, por exemplo, depois de localizar um médico e usar os seus serviços, o paciente pode enviar on-line as suas "notas de avaliação" em ítens como facilidade de marcar uma consulta, tempo na sala de espera, gentileza dos funcionários, quantidade de tempo passado com o paciente, etc. O paciente também pode enviar um texto com comentários negativos ou positivos sobre o médico. Outro "site", o HealthGrades, utiliza para quatro categorias de serviços um sistema baseado em número de estrelas, como o usado para hotéis. O grau de detalhe que se pode obter de avaliação é espantoso: para um determinado hospital que se escolha, pode-se obter as notas para dezenas de serviços individuais (cineangiocoronariografia, hemodiálise, etc.)

A idéia de prover catálogos mais completos sobre os profissionais de saúde afiliados a uma seguradora, medicina de grupo, plano de saúde, etc., não é nova. A tendência é que os sites dos planos e convênios de saúde também venham a fazer o mesmo. A extensão natural desses catálogos é uma coleção de home-pages de médicos e outros profissionais de saúde, distribuídos por toda a WWW, e que podem ser integrados através de um serviço de catálogo eletrônico on-line e pesquisa por palavras-chave. Aliás, isso é interessantíssimo, pois permite aprofundar a pesquisa, do ponto de vista do paciente. Por exemplo, um médico pode colocar em seu currículo on-line que é especializado em diagnóstico e tratamento de determinadas doenças ou síndromes, ou que oferece serviços diagnósticos altamente especializados em alguma área. Desse modo, a pesquisa pela Internet fica muito mais poderosa, pois, por exemplo, se eu quiser localizar todos os cirurgiões plásticos de sexo masculino, que são capazes de operar fissuras lábio-palatinas raras, em um raio de 100 km de minha casa, que atendem pelo plano nacional da UNIMED, com mais de 15 anos de experiência, e que tem título de especialista pela SBCPR há mais de 10 anos; certamente eu poderei achá-lo(s) em alguns segundos de pesquisa para Internet.

Acho que todos os leitores que começarem a imaginar o impacto da Internet nesses aspectos, não deixarão de chegar às mesmas conclusões sobre como a prática médica, e até a ética profissional, vão mudar nos próximos anos!

Endereços na Internet




Renato M.E. Sabbatini é professor e diretor do Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas, colunista de ciência do Correio Popular, e colunista de informática do Caderno Cosmo. Email: sabbatin@nib.unicamp.br

Veja também: Índice de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no Correio Popular.



Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas,  7/1/2000.
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