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Computadores no Olimpo

Renato M.E. Sabbatini

Os Jogos Olímpicos deste ano, em Atlanta, EUA, serão os mais sofisticados da História, com relação ao uso de alta tecnologia. Evidentemente, a parafernália de computadores e telecomunicações cresce em número e complexidade a cada Olimpíadas, mas as estrelas do show, desta vez, são os equipamentos de segurança e controle de acesso. A paranóia americana por segurança chegará ao seu limite máximo. Câmaras de vídeo estarão espalhadas por toda parte, e os monitores estarão conectados às bases de dados de terroristas e criminosos do FBI e da CIA. Centenas de agentes de segurança carregarão aparelhos portáteis que são, ao mesmo tempo, terminais de computador, telefone celulares e walkie-talkies.

Para identificar os atletas que entram e saem da Vila Olímpica, os americanos implementaram um sistema que mais parece saído diretamente de um filme de ficção científica. A empresa Sensormatic, da Florida, doou cerca de 25 milhões de dólares de equipamentos de um dos mais avançados sistemas automatizados de segurança do mundo, baseado em biometria e cartões inteligentes. Quando um atleta passa pelos portões de segurança, ele atravessa o campo gerado por uma antena, que lê automaticamente o microchip contido em seu crachá e identifica a pessoa. Em seguida, o atleta coloca a mão sobre uma janela de vidro, e sensores de raios infravermelhos criam um mapa digital da palma da mão. Medidas relativas a forma e tamanho dos dedos e da mão são tomadas automaticamente e comparadas com os dados que constam sobre aquela pessoa na base de dados (existem trabalhos que comprovam que cada pessoa tem um formato e tamanho únicos em suas mãos).

A idéia era ter um sistema biométrico, ou seja, que realiza a identificação por meio de alguma propriedade biológica mensurável e acoplada de forma pessoal e intransferível à pessoa. Dessa forma, torna-se praticamente impossível falsificar, ao mesmo tempo, o microchip de identificação e os dados biométricos, uma vez que a base de dados está em computadores com acesso restrito. A sofisticação do sistema de computadores das Olimpíadas inclui linhas de comunicação de alta segurança, criptografadas, para impedir o acesso por pessoas não autorizadas.

Segundo os técnicos da Sensormatic, o sistema já foi testado e é 100 % confiável. É muito mais rápido do que um sistema baseado em impressões digitais, e muito menos complexo do que um sistema baseado em identificação retiniana (este é outro sistema digno de filmes do James Bond: a pessoa olha por um visor e uma câmara digital registra o padrão de artérias no fundo do olho, que também é único para cada ser humano). Será interessante verificar se o sistema funcionará mesmo, em condições reais de uso. A lei de Murphy é inevitável (“se algo pode dar errado, dará’), e podemos imaginar coisas como atletas perdendo ou trocando seus crachás, jogadores de vôlei voltando com as mãos inchadas de tanto golpear a bola, etc. O irônico é que, já prevendo problemas deste tipo, os organizadores colocaram também os bons e velhos porteiros humanos nos principais pontos de acesso. O cérebro humano ainda é o dispositivo mais inteligente e eficiente de reconhecimento de faces.... Por outro lado, como todo “hacker” sabe, não existem sistemas de computadores totalmente seguros. Sempre existe um ponto fraco que pode ser explorado pelos tecno-nerds, que são legião nos EUA.


Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 22/7/96.
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