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Revoluções

Renato M.E. Sabbatini

O uso do computador nos lares e no ambiente de trabalho está se tornando tão comum e banal, que as pessoas se esquecem que isto é o resultado de uma seqüência vertiginosa de inventos revolucionários, como nunca houve na história da humanidade.

Os pequenos computadores que temos em nossas mesas, hoje, tem como primeiro “antepassado” o circuito integrado, ou “chip”. A primeira das nossas revoluções, ele foi inventado pela empresa Texas Instruments, por volta de 1960, e é constituído por um conjunto miniaturizado de componentes eletrônicos (transistores, resistores, capacitores, fios de interconexão, etc.), construídos sobre uma pastilha fina de cristal de silício. Um circuito completo, como um amplificador de som, por exemplo, pode ser construído em uma área de poucos milímetros quadrados. Os CI’s foram responsáveis pela maior parte das inovações tecnológicas recentes na área da eletrônica, tais como as calculadoras portáteis, os aparelhos de videocassete, a ignição eletrônica para automóveis, a comunicação por satélites, as centrais telefônicas digitais, só para citar uns poucos exemplos. Eles estão literalmente em todas as partes, em nossa vida quotidiana, até mesmo dentro dos cartões de Natal que tocam musiquinhas.

Ao longo dos anos, os engenheiros foram aperfeiçoando os CI’s, tornando-os cada vez mais miniaturizados. Para o leitor ter uma idéia, basta ver a progressão das memórias eletrônicas dos computadores: os primeiros CI’s, lá por volta de 1965, tinham apenas 1,024 bits por chip. Um computador IBM 360, um “mainframe” que custava vários milhões de dólares, tinha 512 K de memória, o que significava um armário inteiro cheio de chips de 1 K. Atualmente, os grandes produtores de CI’s já estão preparando o chip de 128 megabits, ou seja, um único circuito integrado com apenas 1,5 cm2 de área contém o equivalente à 16 megabytes de memória, ou 32 vezes a memória de um IBM 360 ! Um único transistor nesse circuito tem o mesmo tamanho que uma célula sangüínea...

A segunda revolução ocorreu quando a miniaturização eletrônica avançou a tal ponto, que se tornou possível colocar a Unidade Central de Processamento completa de um computador, em um único chip. Isso aconteceu em 1972, na empresa americana Intel Corporation, e deu nascimento ao microprocessador. Em 1974 surgiu a terceira revolução, o primeiro microcomputador pessoal, baseado no chip Intel 8080, dando origem à longa linhagem baseada nos chips da Intel, até chegarmos ao Pentium, o mais avançado de todos, até o momento.

Na área de software, eu identifico apenas duas revoluções. A primeira foi a primeira linguagem de programação realmente popular e fácil de aprender por qualquer pessoa, o BASIC, que foi inventado na Universidade de Dartmouth, nos EUA, pelos professores Kemeny e Kurtz. O criador e dono da Microsoft, Bill Gates, deve o início de sua fortuna a um pequeno interpretador BASIC, que desenvolveu quando ainda era estudante, para os primeiros microcomputadores pessoais. A segunda revolução foi o desenvolvimento das interfaces gráficas de usuários (GUI’s), pela empresa Xerox, nos anos 70s, ou seja, o uso de janelas, mouse, menus, etc., que deu origem aos ambientes operacionais modernos, como o Microsoft Windows. Essas duas revoluções, juntas, tiveram o poder de popularizar enormemente e tornar acessível o uso de computadores sofisticados e potentes à população leiga em geral.

A sexta e última revolução é a Internet, a rede global de computadores. É uma “invenção” complexa, que se apoia em um grande número de inovações gradativas, como modems, fibras óticas, satélites de comunicações, software padronizado, etc. Mas o seu potencial transformador, social, psicológico e econômico supera tudo o que a humanidade fez até hoje, inclusive a própria invenção da imprensa, no século XV.


Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 10/9/96.
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