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Alter ego digital

Renato M.E. Sabbatini

Cansado de receber montes de mensagens eletrônicas e nunca ter tempo suficiente para selecioná-los ? Suas olheiras estão muito fundas porque fica todo dia até as quatro da madrugada procurando informações na Internet ? Fica irritado toda vez que o Altavista devolve 30 mil indicações para uma inocente pesquisa que você fez ?

Então você é um dos milhões de usuários da Internet que gostariam de ter um auxiliar digital inteligente para ajudar na tarefa cada vez mais insana e devoradora de tempo que é "navegar" na Internet. Em suma, um "alter ego", que em latim quer dizer "o outro eu", alguém que pense exatamente como você, tenha os mesmos gostos, reaja da mesma maneira. Aliás, coincidentemente ou não, este é o nome registrado de um novo software da IBM que faz exatamente isso, ou seja, foi projetado para gerenciar o correio eletrônico (email) pessoal. Ele funciona com base em técnicas de Inteligência Artificial, usando um conjunto de regras que o próprio usuário pode especificar. Por exemplo: "me avise de todos os emails vindos de meu chefe", "tudo que se refere a aeromodelismo plástico me interessa", "não quero receber nenhuma mensagem vindos de apple.com", "apague todas as mensagens que tenham o texto 'unsubscribe' em seu conteúdo", etc.

Um programa como este pode se transformar em um grande economizador de tempo para quem recebe muitos emails. De todos os auxiliares inteligentes da Internet, os mais interessantes, entretanto, são os chamados "agentes autônomos". São mais sofisticados do que os programas semi-inteligentes, como o Alter Ego da IBM, pois eles percorrem a Internet com alguma missão específica. No futuro, eles serão essenciais para o uso racional da Internet. Por exemplo, um agente autônomo poderá "caçar" todas as noites na Internet, para capturar todas as novidades que satisfaçam seu perfil de interesse, e montar automaticamente uma HomePage com as principais notícias e endereços, que você poderá ler no dia seguinte, rápida e tranqüilamente. Outro tipo de agente poderá realizar uma busca na Internet por um determinado produto que você está querendo comprar, fazer uma lista de todos os que achou e de seus respectivos preços, e decidir automaticamente qual é o mais barato deles.

Softwares como esse já existem, estão operacionais na Internet e são chamados de "softbots", ou robôs de software. Os índices de busca do tipo Altavista Digital, por exemplo, utilizam essa tecnologia para, todos os dias, construir automaticamente um índice de todos os "links" (vínculos lógicos) existentes na WWW (na semana passada eram cerca de 30 milhões !) Muitos centros de pesquisa estão construindo agentes autônomos para a Internet e investigando o seu potencial. Num dos centros mais badalados, o famoso Media Lab, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), é um dos lugares onde se cria essa nova e fascinante tecnologia. O agente autônomo do MIT é, inclusive, capaz de aprender o que o seu "dono" gosta mais !

A previsão é que os agentes inteligentes autônomos sejam cada vez mais usados na Internet. Muitos pesquisadores estão alarmados com essa previsão. Eles podem ter um potencial destruidor muitas vezes superior aos vírus de computador, se forem criados para explorar a Net e realizar decisões independentes, com intenções danosas. Qual será o limite a ser imposto aos agentes autônomos, para que eles não se transformem em agentes nocivos para a Internet e seus usuários ? Como se poderá diferenciar entre ações legítimas, ilegítimas, ou criminosas ? Por exemplo, é eticamente aceitável um softbot que percorra a Internet coletando nomes de pessoas com um determinado perfil desejado, para depois esses dados serem usados para mandar "junk mail" (propaganda não solicitada) simultaneamente para milhares de usuários ?

O resultado pode ser imprevisível. Uma rede tão poderosa como a Internet, conectando praticamente todo o planeta, poderá ser ameaçada seriamente, se juntarmos conectividade máxima, com computação distribuída (a tão falada linguagem JAVA) e agentes autônomos de software.


Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 9/7/96
Autor: Email: sabbatin@nib.unicamp.br

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