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A guerra das plataformas

Renato M.E. Sabbatini

Todo computador precisa ter um software básico, que se denomina sistema operacional. É um conjunto de programas sob o qual funcionam os outros aplicativos que os usuários utilizam no dia a dia, tais como um processador de textos ou um programa de contabilidade.

No começo da era da Informática comercial, cada fabricante tinha o seu próprio sistema operacional. As vezes, cada modelo de computador de um mesmo fabricante tinha um sistema operacional distinto ! Portanto, era muito difícil fazer os computadores "falarem" entre si. No começo da década dos 70, entretanto, começou a haver uma tendência de padronização (como por exemplo, a IBM, que lançou o sistema operacional para sua linha de computadores de grande porte, de enorme sucesso, a linha 360/370). O maior avanço foi dado pela empresa Bell (atualmente AT&T), que desenvolveu o UNIX, o primeiro sistema "aberto" e multiplataformas; ou seja, que podia ser mexido e adaptado pelos desenvolvedores de sistemas, e que portanto podia ser colocado para rodar em várias marcas e modelos de computadores.

Atualmente, a batalha dos sistemas operacionais está praticamente ganha pela Microsoft, na arena dos microcomputadores. Os únicos concorrentes sérios à dupla DOS/Windows, que é o PC-DOS-OS/2, da própria IBM, estão em vias de se retirarem do mercado (a semana passada foi agitada por boatos que a IBM deixaria de vender e apoiar o seu excelente sistema OS/2). A Apple, que fabrica o microcomputador Macintosh, incompatível com a linha IBM-PC, está seriamente abalada financeiramente, e perde mercado dia a dia. Pouca gente acredita que ela vá se recuperar de modo a ser uma presença significativa no mundo dos Pcs.

As novas batalhas, portanto, deverão ficar restritas aos sistemas operacionais para grandes redes de computadores e computadores de grande e médio porte, cujo uso principal é institucional ou corporativo. Nessa área, restam dois gigantes: o UNIX e o Windows NT, da Microsoft (que, aliás, é uma espécie de UNIX disfarçado, tendo sido desenvolvido a partir de um padrão UNIX-like, chamado de POSIX). O UNIX se disseminou de tal forma, que hoje não pertence a nenhuma empresa em particular, e isso se constitui em uma desvantagem (são dezenas e dezenas de dialetos e variantes, de acordo com as particularizações do UNIX realizadas por cada fabricante de hardware ou de software). Já o Windows NT é a grande e ousada cartada da Microsoft para dominar o mercado multiplataformas, e é um sistema realmente padronizado e constante, pois é dominado por uma única empresa. Se a cartada der certo, o Sr. Bill Gates se tornará mais biliardário ainda, pois esse é um mercado de altos valores agregados. Para se ter uma idéia, somente no mercado bancário dos EUA (sem dúvida, um dos maiores clientes de sistemas desse tipo), estima-se que o número de servidores aumentou de 18 mil, em 1993, para mais de 50 mil, em 1995.

Mas, a briga é muito dura e está se expandido. O UNIX está muitíssimo bem entrincheirado, e domina o mercado das estações de alto desempenho (as máquinas RISC) e as redes de computadores de grande porte (a maior responsável pelo fortalecimento do UNIX é a Internet, com a qual tem um casamento perfeito). Recentemente, a "fábrica de idéias" que originou o UNIX e o mantém progredindo, o UNIX System Laboratory, foi comprado da AT&T pela empresa Novell, que detém o virtual monopólio de sistemas operacionais para redes de microcomputadores, o NetWare; e isso é considerado muito bom pelos analistas, pois a Novell se comprometeu a manter o UNIX um sistema aberto. O Windows NT foi muito afetado, no começo, pelo seu mau desempenho e excesso de problemas, e ainda não goza de aceitação generalizada. O UNIX por sua vez, não é tão rico e "moderno" quanto o Windows NT.

Tudo isso deixa os usuários dessa faixa de computadores em um grande dilema. Para onde vai o mercado ? Qual sistema oferece mais vantagens ? Qual é a garantia de suporte futuro ? Será fácil migrar os sistemas desenvolvidos de um computador para outro ? São perguntas que valem dezenas de bilhões de dólares. Minha opinião é que, a não ser que a Microsoft realmente se dedique de forma mais agressiva ao seu produto NT (e isso é duvidoso, pois seu bastião principal, o Windows 95, está tendo muitos problemas), o UNIX se tornará mais forte.


Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas,
Autor: Email: sabbatin@nib.unicamp.br
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