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Internet Brasil

Renato M.E. Sabbatini

Foi dada a partida, e o jogo se chama Internet Brasil. Já comentei anteriormente nesta coluna, que muita gente acha que Internet é novidade, apesar dela existir com este nome desde 1985, e, no Brasil, desde 1989. O que ocorreu foi mais um fenômeno de midia e de marketing social, em função de notícias dadas no exterior sobre o impacto que está sendo causado por uma rede internacional com mais de 4 milhões de computadores. O maior crescimento porcentual da Internet não está ocorrendo agora, por incrível que pareça. Nos EUA, o pico na taxa de crescimento anual (a rede quase sextuplicou de tamanho em apenas 12 meses), ocorreu em 1986, e, provavelmente, por um efeito artificial causado pela mudança de nome e pela característica integradora de redes. Atualmente, a Internet cresce, em média, 50 % ao ano (o que já é bem impressionante), e chegará próxima à saturação do mercado, nos países desenvolvidos, dentro de uns cinco a oito anos. Fora dos EUA, onde estão apenas 30 % dos computadores conectados, a realidade é outra. Ela repete, por exemplo (e isso vai seguramente ocorrer no Brasil até final de 1996), o que ocorreu nos EUA em 1986-87, ou seja, o crescimento explosivo, na fase exponencial, de quem tem ainda muito pouco. Aliás, por falar nisso, o campeão de expansão de 1994 foi nosso vizinho e rival, a Argentina, que cresceu 8960 % em um ano. Mas isso ocorreu porque eles tinham, até se iniciar o processo, apenas 200 ou 300 nodos conectados (o Brasil, em comparação, já tem mais de 6.000).

A Internet Brasil pretende pular dos seus atuais 55 mil a 60 mil usuários, a mais de um milhão, em um ano e meio. É expansão violenta, prá ninguém botar defeito. Vai ter muitas dores de parto, com certeza, mas certamente vai ocorrer, seguindo uma lógica natural (muito semelhante, por sinal, à empregada pela Amway) de multiplicação sem limites da sua base, ou capilaridade; e que é o segredo do sucesso da única estrutura que podemos dizer ser realmente democrática, e realmente internacional.

Felizmente, tivemos muita sorte (e competência de quem lutou para que fosse por esse caminho), pois o modelo brasileiro de crescimento e gerenciamento da Internet é sério e robusto. Ao invés de seguirmos o modelo falido do monopólio estatal, que promete x mil terminais de telefones (por exemplo), e depois causa uma fila imensa e desiludida de usuários, que precisam pagar preços escorchantes, abusivos, obscenos, para conseguir um mero telefone, uma coisinha que em qualquer país minimamente organizado se consegue em menos de uma semana por um preço ridiculamente baixo. No caso da Internet (felizmente, volto a repetir), quem ganhou a guerra de braço com o império monopolista das telecomunicações (a.k.a. Embratel) foi a RNP, ou Rede Nacional de Pesquisa, um projeto especial do CNPq, que não tem estrutura jurídica própria, é tocada por um número reduzidissimo de técnicos idealistas (a maioria ainda é bolsista, nem tem emprego fixo), a um custo surpreendentemente pequeno para o país. O modelo da RNP é perfeito para nossas condições, porque ela se propõe apenas a: 1) criar tecnologia, e repassá-la para os parceiros sociais (provedores de acesso, usuários, etc.); 2) financiar e administrar o entroncamento nacional, que são as linhas de alta velocidade que unem entre si os centros e redes regionais e privadas; 3) dar acesso prá todo mundo que quiser entrar na Internet, de forma a mais barata e equalitária possível (e aqui, isso não significa que a RNP vai ser um outro monopólio, mas sim que ela vai apenas garantir que surjam centenas e centenas de empresas privadas provedoras de acesso em todo o país); e 4) garantir que os usuários acadêmicos, ou seja, os que estão em instituições educacionais e de pesquisa, continuem tendo acesso irrestrito e gratuito.

Depois que saiu o decreto do governo federal, colocando a coisa em pratos limpos, a RNP saiu na frente, com extremo dinamismo, e, coisa rarissima de se ver em nosso sofrido país, em menos de dois meses já está com vários Centros Nacionais de Informação montados para atender ao público (principalmente provedores interessados em se cadastrar), com dezenas de hot-lines, kits de informação completíssimos e bem feitos, atendimento via Internet e BBS, etc. Mais interessante, ainda, o modelo gestor montado pela Internet é extremamente participativo, com representantes de todos os setores da sociedade brasileira, o que assegurará que sigamos os rumos de maior interesse para a nação, e que se mantenha a flexibilidade necessária em um setor tão dinâmico e cambiante como esse.

A impressão que se tem é que, agora, a coisa vai. Está de parabéns a equipe da RNP, coordenada pelo Tadao Takahashi.


Publicado em: Jornal Correio Popular, Caderno de Informática, 25/7/95, Campinas,
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