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Urbe criativa

 

Renato Sabbatini

 

Campinas, como toda cidade de mais de 300 ou 400 mil habitantes no Brasil, já está cheia de problemas urbanos. A cidade, tão agradável e gostosa de viver uma ou duas décadas atrás, está ficando seriamente doente. Deterioração da infraestrutura viária e engarrafamento do tráfego, poluição do ar e da água, com comprometimento do suprimento de água, excesso de favelas e quase 30 % da população jogadas na marginalidade e na pobreza, invasões de sem-teto, enorme aumento de criminalidade, violência e uso de drogas; tudo isso tem aparecido nas manchetes do Correio Popular nos últimos meses.

Campinas, aos poucos, se radicaliza. Os problemas são causados, simultaneamente, pelo crescimento da riqueza e pelo progresso; e pelo excesso de pobreza e atraso. A curva de distribuição dos indicadores sociais mostra que temos, de um lado, uma metrópole européia, com uma parcela da população com alto poder aquisitivo, gerando problemas como excesso de veículos, lixo e poluição industrial. Do outro lado, temos uma massa de gente pobre, sem emprego e sem qualificação, empilhando-se em condições sub-humanas em favelas; gerando o desajuste e o crime. De um lado, temos um projeto Alpha, modernissimo, que poucas cidades do mundo têm, cujo objetivo e colocar a Internet gratuitamente em todas as escolas municipais e postos de saúde; e de outro temos um monte de analfabetos, e de gente morrendo por falta de medicamentos.

Nessas condições, a população se volta para o poder público, que é acusado de todos os males; esquecendo-se que a civilidade e a qualidade de vida das cidades modernas dependem de um esforço cooperativo de todos os atores sociais. O que falta à nossa cidade é a criatividade, a adoção de soluções simples e baratas, de baixa tecnologia, mas que se forem adotadas massivamente, por todos, têm a mágica de funcionar.

 Um exemplo ? Nossa cidade-irmã, Curitiba, que ultrapassou Campinas em muito, em matéria de qualidade de vida. Recentemente, a prestigiosa revista de divulgação científica, "Scientific American", lida por 8 milhões de pessoas, deu uma matéria de capa sobre Curitiba. O artigo, escrito por dois professores e especialistas norte-americanos em urbanismo e crescimento sustentado, transborda de elogios e de admiração. Algumas soluções descritas por eles:

 Como Curitiba chegou a este estado de desenvolvimento ? Porque Campinas, que é muito mais rica, nào consegue algo parecido ?

 Em primeiro lugar, Curitiba, desde a década dos 70, tem tido uma sucessão de prefeitos dedicados ao planejamento urbano e às soluções inteligentes, culminando com o governo de Jaime Lerner, um dos grandes gênios criativos do urbanismo no nosso país. Mas é preciso entender também que sem a educação, o envolvimento e a participação maciça da comunidade, nada disso teria acontecido.


Correio PopularPublicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 14/9/97.

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