21/11/2010 - 10h56

Especialistas defendem uso mais racional do celular; veja íntegra de debate

DE SÃO PAULO

Nesta semana, a Folha promoveu um debate sobre uso do celular e seus riscos à saúde. No encontro, mediado pela editora-assistente de Saúde, Débora Mismetti, especialistas afirmaram que é possível usar os telefones de forma mais racional.

Fizeram parte do debate o engenheiro Alvaro Augusto Almeida de Salles, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o psiquiatra e psicanalista Elko Perissinotti, do Instituto de Psiquiatria da USP, o oncologista Paulo Hoff, diretor-clínico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e diretor geral do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, e o biomédico Renato Sabbatini, pós-doutor em neurofisiologia pelo Instituto Max Planck e livre-docente pela Unicamp.

Para Hoff, a própria tecnologia pode achar uma solução para possíveis problemas. Já Sabbatini se apoiou nos últimos resultados de uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde para afirmar que não há prova de risco.

Perissinotti disse que o uso do celular é quase sinônimo de dependência. Salles, por sua vez, afirmou que as evidências de possíveis danos já são suficientes para uma mudança radical na maneira como as pessoas usam o aparelho.

Veja a íntegra do debate a seguir e leia a reportagem completa na edição deste domingo da Folha.

"Faltam mais estudos que provem riscos do celular", diz oncologista Paulo Hoff

O celular causa ou não danos à saúde? A pergunta principal do debate promovido pela Folha na quarta-feira (17) ficou sem resposta. Ou, com três respostas.

Leia entrevista com a pesquisadora americana Devra Davis

O oncologista Paulo Hoff, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, o engenheiro Alvaro Salles, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o biomédico Renato Sabbatini, professor da Unicamp, e o psiquiatra Elko Perissinotti, do Hospital das Clínicas de São Paulo, não entraram em consenso sobre o resultados das pesquisas publicadas até agora.

Sabbatini, que coordenou uma revisão de estudos sobre o tema, se apoiou nos últimos resultados de uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde para afirmar que não há prova de risco.

" Não existe plausibilidade biofísica para esse efeito, uma vez que a intensidade dos campos [magnéticos do celular] é extremamente baixa, da ordem de miliwatts por metro quadrado."
Salles, estudioso dos efeitos da radiação emitida pelos celulares, citou dados de um apêndice da mesma pesquisa para defender o ponto de vista contrário. "Usuários há mais de dez anos tiveram o dobro do risco de tumores cerebrais."

Debate no Auditório da Folha, da esq. para dir.: Álvaro Salles, Paulo Hoff, Renato Sabbatini e Elko Perissinotti

Ainda que não haja certeza, Sabbatini acredita que os pais devem orientar melhor seus filhos para um uso responsável do aparelho.

A situação é bem mais crítica na visão de Alvaro Salles. "A espessura do crânio de uma criança é a metade da de um adulto. O cérebro delas tem o conteúdo de um líquido salino, que concentra mais o campo eletromagnético. E muitos dos efeitos de baixo nível [de exposição] ocorrem na multiplicação das células. Nas crianças, as células se multiplicam com maior rapidez."

MUDANÇA DE HÁBITO

Para Salles, as evidências de possíveis danos ao DNA -que poderiam levar a mutações e tumores- já são suficientes para uma mudança radical na maneira como as pessoas usam o aparelho.

O engenheiro defende que os telefones deveriam vir sem alto-falantes, obrigando as pessoas a usar fones de ouvido em vez de colocar o telefone na orelha. Com a maior distância do cérebro, a exposição à radiação seria menor.

"Os fabricantes publicam alertas nos manuais para que os usuários não encostem o celular a distâncias menores que 2,5 cm da cabeça. É quase uma confissão de culpa."
Sabbatini afirma que o alerta não se aplica à cabeça, que é protegida pelo crânio.

Ainda que não haja provas concretas de riscos, o oncologista Paulo Hoff acredita que precaução nunca é demais. "Sou a favor do uso mais responsável e contido, porque as pessoas estão ficando escravas do celular."

Para o psiquiatra Elko Perissinotti, o uso do celular já é quase sinônimo de dependência. "O ser humano tende ao abuso. Hoje, no Hospital das Clínicas, já temos tratamento para dependentes de internet. Acredito que em um ano teremos tratamento para dependentes de celular."

Hoff acredita que não chegaremos ao ponto de ter que escolher entre a tecnologia e a saúde. "A história mostra que quando a tecnologia era importante e causou problemas, ela foi corrigida. A própria tecnologia acaba gerando sua solução."