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As (des)elegâncias do mundo cibernético São Paulo - A correspondência pela internet segue os mesmos princípios da etiqueta à mesa. Todo mundo usa garfo e faca, mas nem todos com a devida fineza. Se falar de boca cheia é uma das grandes grosserias que se pode cometer, ESCREVER EM LETRAS MAIÚSCULAS é considerada a pior gafe do mundo cibernético. Aparece em primeiro lugar nas listas de "netiquette", ou etiqueta na rede. "Significa que você está gritando", diz o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Renato Sabbatini. Portanto, aí vai a regra número 1: a menos que a intenção seja mesmo soltar uns berros virtuais, nunca mande uma mensagem grafada em letras maiúsculas. Imagine o espanto do destinatário na frente do outro monitor. Meio rápido e fácil, disponível a qualquer momento, a internet induz a uma certa informalidade no tratamento. "Isso deve ser evitado, principalmente no primeiro contato e se você não conhecer a pessoa", diz Suzana Doblinski Joehr, consultora especializada em etiqueta empresarial e flexibilidade cultural que mora em Vevey, na Suíça. "A informalidade brasileira acaba extrapolando os limites na internet." É natural que a informalidade seja o tom dominante nos e-mails, já que, muitas vezes, eles substituem ligações telefônicas. Transformam-se em diálogos trocados em doses homeopáticas durante o dia. Chegam ao extremo - piada que já circula há anos na internet - quando uma pessoa manda um recado perguntando se seu colega estaria interessado em almoçar, apesar de o tal colega se sentar na mesa ao lado. "A internet é mais parecida com o telefone. É ágil, sem protocolos", diz Teresa Roza, engenheira sanitarista que trabalha em uma multinacional. Acostumada a se corresponder a trabalho via e-mail, Teresa é uma internauta elegante. Não repassa mensagens compridas ou carregadas, raramente envia piadinhas e toma cuidado com o que escreve. Apesar de não haver regras claras nas empresas quanto ao uso do e-mail, não dá para esquecer que eles são um meio de comunicação aberto, que pode ser visto pelos patrões. Como lembra Suzana, é bom evitar mensagens confidenciais, já que um e-mail é como um cartão-postal: não tem envelope. Limites corporativos à parte, para Suzana e os decálogos sobre netiquette encontrados na rede, o pecado capital é fazer mau uso do português, esquecendo concordâncias básicas. "As regras gramaticais existem e não podem ser esquecidas nos e-mails", diz. "A ´elegância´, assim como ortografia e gramática corretas, é importante", ensina um dos decálogos da rede. A velocidade da comunicação faz o mouse correr logo para clicar em "enviar a mensagem", mas é melhor refrear o impulso e reler antes o que foi escrito. Mesmo porque, alertam os especialistas, um recado enviado pela internet pode ficar armazenado por muito tempo, e qualquer deslize, gramatical ou de humor, pode ficar como prova e ser tirado do baú mais tarde. "Lembre-se: o que você escreve é um reflexo da sua personalidade", diz Suzana. Apesar de pregar o bom uso da gramática, os especialistas recomendam que se evitem acentos e caracteres específicos de determinada língua, como o "ç" em português. O problema é quando a mensagem é enviada a países que não têm o mesmo tipo de acentuação ou pontuação (em geral, caracteres que não sejam ASCII). Nesses casos, o texto pode virar "grego", mostrar sinais incompreensíveis para quem o recebe. Não custa lembrar que, em mensagens a compatriotas, a correta utilização de acentos e letras especiais é essencial e fundamental para manter não só a compreensão fácil do texto como o bom conceito que o endereçado faz dos dotes gramaticais do remetente. Os "smileys", marcas de pontuação que formam expressões como o sorriso :-) são bem difundidas, mas outras abreviações chegam a ser crípticas. Ou derivam do inglês. BTW são só letras sem sentido para quem não sabe que significam "by the way" ou "a propósito". Além disso, é preciso evitar anexos e mensagens "carregadas". "As pessoas mandam ´attachments´ sem necessidade", diz Sabbatini. Muitas vezes as mensagens carregam pesos que nem o próprio remetente percebe, como assinaturas ou desenhos bonitinhos para compor a página. "O pior de tudo é receber um e-mail enorme e ficar pagando pulsos da linha telefônica para receber." Se for imprescindível recorrer a textos longos, pergunte antes se o computador do destinatário tem capacidade para abrir o pacote. "Seja o mais conciso e objetivo possível", ensina Suzana. "Se você não liga para o seu tempo, ligue para o dos outros." Nessa mesma categoria, de perda de tempo, estão os telefonemas para se certificar se a pessoa recebeu o e-mail. Teresa acrescenta outro item à lista: gente que responde recados numa mensagem nova. "É chato quando a pessoa não responde no mesmo e-mail", diz. Responder na mesma mensagem facilita a vida de quem recebe a resposta, porque permite conferir o histórico da troca de correspondência. "Dá uma continuidade para todas as pessoas que acompanham o assunto. Laura Knapp
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